Crônicas de Pai para Filho - O telefonema
Não importava onde ele estivesse, sempre que dava a meia-noite do dia 31 de dezembro, meu pai me telefonava.
Não importava onde eu estivesse, eu ficava atento esperando ele ligar para poder atender.
Não que eu me importasse, eu nem mesmo gosto muito de felicitações, parabéns, e outras dessas trivialidades. Mas eu atendia porque sabia que era importante para ele.
A mais bela das esposas, sempre virava para mim, e me falava: "seu pai vai ligar", com aquele sexto sentido que DEUS ensinou para a mulher, e que só alguns homens têm. Era tiro certo. Era ela falar, menos de minuto, o telefone ou o celular tocava. Era ele.
Ele dizia aquelas velhas bobagens que todos dizem no fim do ano. Votos de felicidades, promessas de dias melhores e todas as outras trivialidades que todo mundo já sabe de cor. Eu respondia as mesmas coisas.
Eu não me importava tanto, pois sabia que o veria na manhã seguinte, e poderíamos nos falar por horas, como era nosso costume.
Se eu soubesse que haveria meia-noite, onde meu telefone não tocaria mais, eu mesmo teria ligado para ele todo ano.
Mas, a gente é assim. Pensa que sabe tudo e de tudo entende um pouco. Mas só a dor ensina de verdade. Essa, é professora dedicada.
Hoje, nem meu pai, nem meu irmão estão mais entre nós. Restam minha mãe e eu.
Também tenho minha esposa, minha enteada, minha irmã do coração, meus amigos. Tenho tudo isso. E sou grato por todos eles.
Só não tenho mesmo, aquele velho telefonema.