O SARCÓFAGO DA RATAZANA INVASORA

 

O ano de 1979 fora marcado pelas chuvas torrenciais que despencavam aos montes por todo território brasileiro. A linda capital do Vale do Rio Doce – a cidade de Governador Valadares – parecia ser o “olho do forte epicentro da densidade pluviométrica”. Era chuva que não parava, nem a troco das rezas bravas.

Estava, já, pronto para ir enfrentar o batente – era então, um Sargento da PMMG. A minha reluzente farda e os demais adereços que a compunham eram motivos do meu orgulho. Entro no banheiro, dou um trato nos cabelos, verifico se a barba está de acordo com as rígidas normas regulamentares – ou seja, raspadinha até que se chegasse à epiderme. Constato: Estava em conformidade! O cinto de apoio e segurança da calça fora afivelado, o de guarnições é ajustado e conferido se a Pistola .40, as balas e o cassetete – itens indispensáveis para o exercício das funções. Tudo estava certo - constato... tudo estava no devido lugar!

Eis que, de repente, sinto aquela vontade de satisfazer à necessidade fisiológica – popularmente conhecido como Nº 2! Retiro, então, toda aquela parafernália. O cinto de guarnições – com a Pistola e tudo – é depositado sobre o bidê. Ato seguinte – desafivelando o cinto da calça – assento no vaso e... “mando ver para depois ver o quê vai dar!” Enquanto estava “mandando ver”, lia as últimas notícias do jornal que tinha às mãos – sempre gosto de ler durante este “real e sublime momento no qual sou o rei por estar no trono.” Em dado momento, sinto algo roçando na minha região escrotal. Assustado e lépido saio da minha pose de Rodin - O Pensador, para – e sem muito pensar – certificar-me do acontecdo.

Amigos, o acontecido deixou-me estarrecido. Havia dentro do vaso (Ops!... Meu trono, ora bolas.) uma ratazana de tamanho descomunal que me olhava desesperadamente, na tentativa de comer as minhas bolas para, depois, sair do meu vaso/trono.

A minha reação de Policial se fez presente. Saquei o Pistola .40 do coldre e disparei dois balaços acertando em cheio a invasora da minha privacidade real. Então – como um Cowboy de cinema mudo – assopro o cano do Pistola e faço os movimentos de rodá-la no dedo indicador e o retorno ao coldre enquanto dizia: - Tomou sua Minnie abelhuda? Saco de Sargento não é lugar para qualquer ratazana engraçadinha se engraçar!

Entro, então, no box onde tomo uma ducha e – saindo do banheiro – lanço o meu olhar vingativo para o cadáver do maldito invasor que, de olhos mortos, porém, ainda abertos – parecia encarar-me desafiador!

Antes de sair para o trabalho, fiz uma ligação para um pedreiro e  pedi-lhe para comprar-me um vaso novo e que o repusesse em substituição ao Sarcófago da Ratazana Invasora!

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 Imagem: Google

Altamiro Fernandes da Cruz
Enviado por Altamiro Fernandes da Cruz em 01/01/2021
Reeditado em 28/09/2023
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