Mapa de localização da cidade de Urucará e o censo comum

Naquela época, do meu tempo de menino, na década de finais de 50 e início de 60, tínhamos um tipo de localização, do censo comum, pois seguiam-se aos nomes das pessoas mais velhas, principalmente os que tinham mais posses ou mais respeito. Diz-se que, bem antes do meu entendimento, que as ribanceiras e portos da cidade, tinham seu dono, os portos eram feitos para atender a demanda de produção dos agricultores e ribanceiras como ponto de apoio para a exposição dos seus produtos.

As ruas também, seguiam-se esses mesmos itinerários, eram conhecidas pelo nome das pessoas, quase não se sabia o nome real das ruas. Exemplo: a gente falava, rua do Seu Loris, rua do Seu Falabella, rua do Seu Manoelzinho, rua do Seu Dibo, rua do Seu Antonio Felipe, rua do Cemitério, rua da Frente, rua de Lama, que depois passou a ser chamada, a rua da Celetramazon, (Que assim passou a ser chamada, com a chegada da Luz, com a iluminação 24 horas).

Os portos e ribanceiras também Porto do Seu Falabella, Porto do Seu Zé Paes, Porto do Seu Ozano, Porto do Seu Antenor, Porto do Seu Antonio Felipe, Porto do Seu Gama, Porto do Seu Wilson Beltrão, Porto do Seu João Victor, Porto dos Pereiras e assim sucessivamente. As ribanceiras serviam para os agricultores e comerciantes colocarem seus produtos em exposição e para secar, pois haviam produtos que necessitavam de serem curtidos e sêcos para a venda. No caso, era construídos varais para Jutas, Pirarucu (O sêco era mais caro), couro de Jacaré, Onças, Veados e outros animais. Sernambí, madeira, como: peças, tábuas, ripas, esteios, pranchas, etc. Tendais para secar o cacau, aqueles iguais da Bahia, quando vinha chuva tinha que correr para fechá-lo.

Havia também os varais de Jutas, espalhados na cidade, como na Rua do Seu Dibo, que seria a Rua Carvalho Leal, o Varal de Juta do amigo Dinuca.

As famílias eram conhecidas pelas pessoas mais velhas, que eram o símbolo de respeito, honestidade, gratidão, exemplo... quem não conhecia o Seu Dedé Ramos, Seu Nicolau Libório, Seu Eustaquio, Seu Chico Monteiro, Seu Zeno, Seu Aristarco, Seu Paulo Barreto, Seu Eustaquio Lobato, Seu Pedro Cidade, Seu Honorato Cobra, Seu Zeca Barreto, Seu Manoelzinho, Seu Dibo, Seu Osterne, Seu Dodó, Seu Benedito, Seu Antenor, Seu Wilson Beltrão, Seu Ozano, Seu Falabella, Seu Antonio Felipe, Seu Militinho, Seu Gama, Seu Arthur, Seu Chico Monteiro, Seu José Paes, Seu João Paes, Tia Margarida, Dona Cremilda, Tio Vituca, Seu Carlos Vieira, Seu Joao Brites, Seu Satuca, Seu Santana, Seu Antônino, Dona Doquinha, Dona Ninita, Dona Zeca, Dona Josefa Marques, Dona Lelé, Dona Judite Beltrão, Dona Estela, Dona Rosa Falabella, Dona Maria Santana, Dona Zita, Dona Teté, Dona Marcinha, Dona César, Dona Maroquinha, Dona Guiomar, Dona Marion, Dona Josefa, Dona Laúca, Dona Dola, dentre outras......

Os comércios eram poucos, do Seu Dedé, Seu Antenor, Seu Falabella, Seu Antonio Felipe, Seu Dibo, Seu Wilson Beltrão, Seu Paulo Marreteiro, Seu Gama, Flutuante do Seu Sabino, Seu José Paes, Seu Chiquinho Guimarães e outros.... Ainda não existia o plástico, os produtos eram vendidos e pesados na hora, embalados em saco ou pedaço de papel.

Assim era o nosso Urucará, uma terra calma, pacata, que levava sua vida tranquila e feliz, da natureza de tudo se consumia, a água, o peixe, a carne, as frutas, o vento, a chuva, o ar, o sol, a lua, os remédios, a cura... vivia-se a vida que Deus nos ensinou, na criação do homem, deu-lhes a vida e a natureza, para que de tudo pudesse usufruir em seu benefício, respeitando-a e tratando-a com carinho e respeito, cuidando de sua preservação como uma coisa sagrada dádiva do nosso Deus criador. Assim era, todos respeitavam os Dias Santos, os Domingos, os Dias das Padroeiras, como dias consagrados ao Senhor, de oração e agradecimento por tudo que lhes foi dado para sua sobrevivência.

OBS: lembramos que essa é a visão do escritor na época, fato que vivenciou quando ainda curumim.

Em 05/12/2020

José Gomes Paes

Poeta e escritor urucaraense

Membro da Abeppa e Alcama