Eduardo Serrão, Roldão dos Anjos e Joaquim Padeiro

O que falar desses caras? Muita gente, os mais antigos, os conhecem em Urucará, pessoas da melhor qualidade, gente amiga e camarada, são como irmãos para mim, porque não dizer para nós, da família PAES, por muito tempo convivemos juntos, isso nos anos 1960/1970.

O Eduardo, botafoguense de coração, era nosso padeiro e motorista do Douro e Vouga, assim como o Zé Antonio, por muito tempo trabalhou conosco quando solteiro. O Roldão também, foi nosso padeiro, seresteiro de mão cheia, toca violão e sempre mandava essa música na madrugada, na padaria: Violão, eu estou tão sozinho.....sempre apaixonado, grande Roldão.

Seu Joaquim Padeiro, era o mais sério, acho que já era casado na época, hoje já se encontra ao lado direito de nosso Pai Eterno, porém temos seu filho nosso poeta, professor e amigo Joaquim.

Grandes amigos. A gente ainda meninos e já ajudavamos a fazer o pão, acordavamos as 1h da madrugada, tudo na escuridão não se enxergava um palmo diante do nariz, não tinha luz elétrica, era ainda na base da lamparina, de forma manual. Em cada etapa, tinha o descanso da massa, quando a gente aproveitava pra dar uma soneca. A boca da noite, a gente colocava o fermento na água na masseira, as 1h fazia a massa e colocava pra descansar, 3h cortar e pesar, 4h enrolar o pão e arrumar, 5h limpar o forno e enfornar, 6h estava saindo o pão quentinho. Daí, os vendedores pegavam os paneiros, enchiam de pão, iam vender nas ruas e entregar nas casas.

Quantas visagens nós vimos, era um medo danado, tinha o calça molhada, o arrasta pé, a velha que se ingirava numa porca, tinha as almas que vinham rezar na igreja, que ficava ao lado de casa, as Rasga Mortalha, fazia um medo danado de arrepiar.

Na época, havia outra padaria do seu Falabella, onde o padeiro era o Luciano, o Cupido como era chamado, que o Bosco colocou armadilha para pegar o ladrão que andava roubando em Urucará, acabou pegando o Luciano, que levou uns chumbos na perna.

Pães caseiros, muitos saborosos, não continham bromato, nem outro tipo de mistura, era só o fermento. A manteiga era Cabeça de Touro original, não tinha margarina, era vendida a retalho na padaria. O freguês trazia o copo de vidro e levava a manteiga, era pesada na balança na hora, ainda não existia plástico o pão era enrolado numa tira de papel.

Fica aqui esse registro, desses três amigos, sempre quando vou a Urucará, os procuro para conversar, ver como estão indo, a família como está? São pessoas especiais que nunca esqueci e jamais esquecerei.

Saudade dessa época que não volta jamais, fica registrado, para que no futuro possam lembrar desses fatos.

Salve os escritores e poetas

Viva a literatura regional

Que de melhor não se tem igual.

Em 21/11/2020

José Gomes Paes

Poeta e escritor urucaraense

Membro da Abeppa e Alcama