Os últimos retoques em 2020
Ano difícil, hein! — eu mesma dizendo para mim — e como foi difícil! Em meio a toda essa dificuldade, eu quero me solidarizar com todas as famílias brasileiras que perderam seus entes queridos, e quero dizer que eu também me incluo nessa dor: eu também perdi.
Dados colhidos, há pouco, na internet, mostram que foram 192.681 mortes. O número me levou a refletir de maneira diferente sobre “Ela” a Indesejada das gentes como Manoel Bandeira nomeou a morte de maneira, poética, e refletiu sobre ela: “talvez eu tenha medo.” — ele disse.
— Sim, eu certamente tenho, e não é pouco. Ela leva quem veio buscar e mata (por um bom tempo) quem ficou.
Embora deveríamos estar acostumados com o limite do tempo de que dispomos; desde que nascemos sabemos que ele é finito. Não é algo fácil, faz parte da nossa cultura fazer planos a longo prazo: sonhamos com o distante e até com o impossível contando com a ajuda dele/tempo, e até nos sentimos, muitas vezes, um filho privilegiado, que conosco, ele será benevolente. Quanto engano! Ele não privilegia ninguém. Não estou dizendo que a pessoa tenha que passar seu tempo se lamentando, se esgueirando, pelo simples fato “Dela” estar ali nos esperando. — Ora, eu indico para hoje que se leia, sem medo, (a leitura não morde) Mario Quintana: “Lá bem no alto do décimo segundo andar do Ano/ Vive uma louca chamada Esperança”. Eu penso que é bem pertinente nesse momento.
A dica de boa leitura também envolve uma prosa. (nem só de verso se faz a literatura) Clarice Lispector, mostra de maneira simples e objetiva como aproveitar melhor o tempo que nos resta:
“Sonhe com aquilo que você quiser. Seja o que você quer ser, porque você possui apenas uma vida, nela se tem apenas uma chance de fazer o que se quer. Tenha felicidade bastante para fazê-la doce, dificuldades para fazê-la forte, tristeza para fazê-la humana, e esperança suficiente para fazê-la feliz. As pessoas mais felizes não têm as melhores coisas, elas sabem fazer o melhor das oportunidades que aparecem em seus caminhos. A felicidade aparece para aqueles que choram, para aqueles que se machucam, para aqueles que buscam e tentam sempre, e para aqueles que reconhecem a importância das pessoas que passam por suas vidas. O futuro mais brilhante baseado num passado intensamente vivido. Você só terá sucesso na vida quando perdoar os erros e as decepções do passado. A vida é curta, mas as emoções que podemos deixar duram uma eternidade. A vida não é de se brincar porque um belo dia se morre”
É mais importante o que se lê do que o que se escreve. (conselho de uma mestra na faculdade para mim, no meu caso). Então eu leio... leio muito... leio como alimento, como remédio buscando o equilíbrio nos grandes mestres. O mundo está precisando de leitura, estamos muito imagéticos, vaidosos, arrogantes, céticos... Estamos precisando recordar as lições dos grandes mestres. E por falar em grande e mestre, para hoje vale parafrasear Ariano Suassuna: “Não sou otimista, otimista é um tolo, também não sou pessimista, pessimista é um chato. Bom mesmo é ser um realista esperançoso.”
Que venha 2021, e que seja melhor para todos!