QUE HISTÓRIA É ESSA, "XARÁ" ?!

QUE HISTÓRIA É ESSA, "XARÁ" ?!

Há lutas que não vale a pena iniciar... você perde até mesmo quando parece ter vencido ! Essa conclusão só nos chega anos ou décadas depois dos fatos sucedidos e, com a experiência adquirida, entraremos somente em batalhas onde a vitória não seja ilusão ou tenha sabor de derrota. Por isso tenho recusado dar depoimentos sobre o Passado, principalmente em relação à Capoeira. Nos anos 80 vigorava na região uma "lei invisível" rezando que "só os escolhidos" podiam realizar algo em prol da coletividade, qualquer outro deveria ser "detonado", desiludido, atrapalhado e impedido. Não se conseguia fazer sequer um "torneio informal" de "pelada" infantil numa pracinha abandonada e mal cuidada, caso esta estivesse "sob a posse" de um Centro qualquer. Ainda que favorecesse filhos de "comunitários", mesmo assim precisava ser proibida. Vimos isso suceder em QUASE TODOS os tais Centros do bairro onde vivemos nestes 34 ANOS !

Eis um ótimo exemplo, sem citar o local: em julho/agosto de 1988, a partir de um convênio com a (depois extinta, no Gov. Collor, 92 ou 93) LBA - Legião Brasileira de Assistência, nosso CCCP tentou conseguir espaço para o Grupo de Capoeira mais estruturado do bairro, o do mestre "Robertão"... o Centro próximo, prédio eternamente fechado, não quiz a Capoeira lá. Tais prédios são públicos, construídos pela COHAB em área da prefeitura, nenhum Centro É DONO deles, mas agiam como se fossem ! Recorri ao gerente da área, numa agência da COHAB no bairro, um certo João de tal. "Lavou as mãos", como Pilatos ! Não dei o braço a torcer... fui reclamar na diretoria da LBA -- que enchia o Pará de dinheiro federal -- que enviou ofício a COHAB, que mandou o João acabar com aquela "palhaçada" e ordenar ao tal Centro que abrisse suas portas para a Capoeira.

Grande vitória, conclui o leitor ! É mesmo ?! Na primeira semana, alunos uniformizados por completo (com a verba da LBA) tudo correu às mil maravilhas. Na segunda-feira seguinte, um grupo de evangélicos estava rezando no local do treino... e olha que sempre existiram DÚZIAS de templos neste bairro, 1 em cada esquina. Na quarta-feira, outra novidade: reunião da "diretoria" no salão, embora houvesse saleta anexa. Na sexta, não abriram o prédio... a chave fôra "extraviada" ! Encontrei o mestre na quadra de futebol, de areia, as crianças todas sujas, pés, mãos e roupas, boa parte delas filhos de moradores próximos. (Curiosamente, era homem o presidente dele e, adiante, quando quase mataram a pauladas em 1993 uma pessoa lá dentro, também outro presidente não moveu 1 dedo para afastar ou punir o agressor, que sequer merecia o título de MESTRE !)

Passariam por lá, em seguida, a professora de balé Anália, o instrutor capoeirista "Cascavel" (ou "Jararaca", não sei ao certo) porém a tática em todos êles mudara. Já não se impedia o uso do espaço, porém eram tantas as exigências e aborrecimentos -- principalmente a questão da chave -- que qualquer abnegado, dando aulas DE GRAÇA, desistia.

Adivinhe, caro leitor, que ATIVIDADE está lá desde 1990 ?! Deixa à inteligência de quem me lê, descobrir... mas, se declarou NENHUMA, errou, a resposta está no texto !

Na praça central do bairro, no mesmo 1988, os "donos" dela queriam IMPEDIR Rodas de Capoeira às sextas, de noite, com o local vazio. Para isso contavam com 2 militares de um "DormeBox" ao lado da praça. (*1) Mais cartas... aos jornais de Belém, ao Prefeito F. Correa, para a LBA de novo, à COHAB e, claro, à "dona" do tal Centro, benemérita maior do bairro inteiro. Outra vitória AMARGA: ofício da PMA na mão para se poder usar uma praça DO POVO ! Ainda querem ouvir "histórias" ?!

A trajetória dessas beneméritas (?!) é um espanto, nunca eram vistas no Centro, moradores vizinhos sequer as conheciam, todas elas mulheres e que moravam sempre distantes do prédio. A tal chave ficava, portanto, numa casa ao lado, com pessoa que não tinha o menor compromisso com o trabalho social ou cultural exercido por um abnegado qualquer. Ah, lembrei... "escorraçada" a Capoeira lá do outro Centro, um jovem comprou vários troféus e tentou fazer belo torneio "de pelada" lá, ainda entendendo "que a praça é do povo". Perdeu tempo e dinheiro: embora "pelada" seja das poucas coisas que apreciam no bairro -- além de bailes e bingos -- a Diretoria impediu o evento, a LBA "não mandava nada ali" ! Esse rapaz é o mesmo "que virou "Secretário de Cultura" (?!) pouco depois, quero crer que já na gestão de Rufino Leão (1990 ?), que substituiu o evangélico -- cito os 3 em crônica anterior, a "ESTÓRIA DO ARCO... DO VELHO", no portal Recanto das Letras -- que entrou na PMA "de bicicleta" e saiu dela 2 mandatos depois com 4 e 9 processos por improbidade e não foi punido por nenhum, "caducaram" todos no tal TCM. Transformaria "seu bairro" em cidade pouco depois, da qual foi o prefeito inicial, isso em 1995/96.

Voltemos ao Centro do 5... o bairro tem 9 "divisões", na verdade 8, o último é "extensão" do 6. Tentou-se usar um centro de pouca atividade, ao lado da Matriz. Meu irmão quase apanhou lá, porque insistiu na idéia. Esses locais não tinham NADA dentro, nem 1 cadeira sequer. O governador HG mal entrou, pintou os prédios e dotou-os de um bebedouro elétrico e 2 jogos de mesa com cadeiras plásticas... nunca se vi nem um nem as outras ! Enfim, "sobrou" pra gente um prédio velho em reboco nem pintura, porta emperrada pelo desuso ! Mesmo assim, aceitamos ! Tinha um porém: era preciso CIMENTAR o chão e, claro, pagar a luz do prédio, que usava "gato", nem medidor existia. Cimentamo meio salão, desagradando "os donos" e as aulas passaram a ser de tarde, para "driblar" o achaque, mas não se ficou lá muito tempo,o problema da chave era infernal. (Entre fins de 1988 até set./1990 foram 5 Centros e 1 escola "sem alunos" !) Assim que abandonamos -- fizemos reportagem lá -- entrou um Cinema vindo do 8, onde fizera pouco sucesso, afinal não era baile e nem "pelada". Teve que CIMENTAR o restante do prédio, claro... e ficou apenas 3 dias !

Esta crônica "nasceu" somente para narrar um pouco da vida deste Centro... nunca serviu pra nada, eternamente fechado. Viviam todos às custas da verba da LBA mantendo cursos de manicure ou costura e"creche" rudimentar, alguns. Com o fim da Legião, no Gov. Collor (ou Itamar, seu "sucessor") em 1991 ou 92, voltaram à inutilidade habitual. Por volta de 92 surgiria lá um espertalhão (R.N de tal) que encheu página inteira com projeto de shows musicais em várias EPs do bairro, tendo o tal Centro como base. Conheci-o na casa de um amigo e, sabendo da realidade local, disse-lhe na cara que NADA daquilo faria. Poz no Centro o nome de 4 ou 5 ENTIDADES ligadas ao seu projeto... todas FALSAS, até onde sei ! Não fez 1 show sequer, ficou DONO do prédio -- dono mesmo, REGISTROU num cartório o prédio como sua PROPRIEDADE -- por ano e meio ou mais e, adivinhem, qual foi a atividade que funcionou lá por uns 2 meses ?

-- "Hein ?! Ninguém responde ? Esprema esse cérebro paralítico, leitor amado, estimada leitora" !

Claro... C-A-P-O-E-I-R-A !!! Procurei o professor, um jovem louro e lhe afiancei que não veria 1 centavo por parte do vigarista, que fôra expulso do Exército anos antes. O sujeito "alugara" o Grupo de Capoeira, para passar por seu e não tinha NADA mais além disso ! Quando fui, tempos depois à SEDUC ananin pedir caixa de som (sem uso lá) para um show musical na mesma praça da qual fomos expulsos -- como eu disse, "alguns podem, outros não" -- realizado pelo publicitário e excelente cantor Juscelino Ramos, torno a encontrar o pilantra. Assim que saiu da sala, cochichei para a velha Secretária, uns 80 anos já, o que fazia ali o tal sujeito... "era funcionário da PMA", respondeu, para meu espanto !

Já em 1996, tentando vender à SEEL nossa extensa coleção de materiais de Capoeira, quem vejo saindo do "Mangueirão" com enorme sacola plástica cheia de bolas oficiais e jogos de camisa DE FUTEBOL ? Preciso dizer, leitor ?!

No Pará, em Belém pelo menos, os PATIFES e ordinários têm vida próspera e fazem muito sucesso... já quem tem boas intenções e um projeto decente NEM COMECE coisa alguma, pois vai "quebrar a cara" ! (Era assim nos anos 90... será que mudou alguma coisa ?) O diretor do Teatro W. Henrique que "detonou" nossas apresentações em 1990 e 91 -- mudei para o do CENTUR em 92, com "resultado" parecido -- e saiu ALGEMADO de lá é hoje um dos nomes mais respeitados da cena teatral na Capital. Ah, lembram do jovem "de Quadrilha" que citei no início do texto ?! A tal quadrilha junina virava "bloco" carnavalesco entre setembro e fevereiro e, como o bairro pertencia a Belém, em 1989 foram desfilar lá. O Bloco descumpria várias Regras, tinha poucos componentes e nem sequer Bateria completa.

Pelo Rádio acompanhei os acontecimentos: foram desclassificados ! Impedidos de desfilar, sentaram-se no asfalto por 1 HORA, até que se resolvesse o impasse, com Bateria emprestada. A "figura", adiante Secretário, está por aí até hoje, FAZENDO SUCESSO ! E aí de quem disse 1 palavra contra !

"NATO" AZEVEDO (em 27/dez. 2020, 19hs)

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ADENDO AO TEXTO - o "capoeira" MAC IVER BECKMAN continua agora o projeto que "encerramos" em março de 1989, as entrevistas com mestres, uma das várias metas do extinto CCCP. (Sérgio Nazaré "ZUMBI" e o famoso A. Bezerra tinham dado depoimento em nov./1987, no SESC da Doca.) Levamos um susto: os 2 nomes maiores chegaram em Belém quase "como iniciantes", isso por suas próprias declarações. Quando devolvi as 11 páginas datilografadas a um deles, me exigiu minha fita cassette, gravada em meu aparelho... viu a "bomba" que era aquilo ! Já o outro, nem se abalou: como um Bolsonaro, parece IMUNE às besteiras e "cagadas" que fez ou faz !

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OBS: (*1) "DORMEBoxs" - criados dentro do projeto "A Escola pede Paz" do governo Hélio Gueiros (em 1987 ?) esses PMBoxes eram casinha em fibra onde mal cabia 1 pessoa. Tinham por regra jamais abandonar o local ! Logo, num assalto a cem metros, acionavam por telefone 1 viatura ou o quartel próximo. A iniciativa perdeu o sentido e acabou extinta !

(*2) - a eterna "presidenta" da praça central esteve perto de ter seu "castelo" demolido... por mim ! Diretores, pelas costas dela, me cederam o endereço do "figurão" que sustentava a praça -- em outro Estado -- esta com seu nome, junto com foto provando o estado deplorável dela. Para ganhar "uns trocados" limpávamos a praça entre 12 e 15 hs e aquela "guerra" não me interessava. Fui OBRIGADO a participar das reuniões da tal "diretoria" -- nem sombra da "presidenta" nelas -- e depois de duas ou três, saí... perdemos o "bico" da limpeza ! Foi um alívio, eram todos de uma mesquinharia enorme, nenhum projeto pra comunidade e a garotada NUNCA USAVA a quadra de futebol de salão. Um dos diretores tinha sorveteria, queria vender sorvetes na festa infantil... vetaram ! Poz o freezer na marra no salão ! Os pais recomendaram aos filhos comprar sorvete... do outro lado da rua, numa padaria !

A vida (inútil) dessa espertalhona encheria 1 livro, se pudesse ser contada ! Quando criou Associação com 132 quadrilhas juninas -- não, leitor, você não leu errado -- alguém passou dias lendo o DOE (Diário Oficial do Estado) e lá descobriu o "contrato": "rios" em dinheiro e uma enormidade em rolos de tecido ! Surgiram nos postes dos pontos finais de ônibus cópias xerox ampliadas do "acerto" oficial e a meia dúzia de quadrilhas -- que participava DE GRAÇA da "Associação" -- debandou ! (Essa história continua, mas não posso contá-la, envolve Secretaria importante.) Eis que, anos depois, revista de entidade mundial exibe polpudo convênio com outra "associação" dela, esta atendendo 520 crianças ! Fui ver a casa, já que não era no endereço da exemplar cidadã... casinha popular de 7 x 10 metros, sala/quarto e cozinha. Com muito custo se poria lá 150 pimpolhos, uns nos ombros dos outros, alguns no teto !

Aprenda 1 coisa na vida, leitor: NENHUM espertalhão vive tanto tempo "aprontando" sem que órgãos oficiais e Prefeitura "NÃO FECHEM OS OLHOS" pra isso... afinal, são êles AGENTES POLÍTICOS e "cabalam votos", se é que o fazem realmente !

(*3) - a 150 metros do primeiro Centro, ainda em 1988, final do ano, conseguimos entrar num minúsculo prédio com saleta de 4 x 8 metros, paredes escuras, nada dentro, eternamente sem funcionar. Tinha o nome de Centro Comunitário DEUS TEM PODER... mas o Senhor dos Exércitos deixou a entidade findar, não quis usar seu Poder para "manter" aquilo. Inauguramos em alto estilo: 2 berimbaus acoplados a caixas de som de 500 watts reais, captadores de violão colados às cabaças. Numa região de planície, às 8,30hs de um domingo acordamos meio bairro, as 2 janelas e a porta lotadas de curiosos. Na segunda-feira de tarde, início da primeira aula, a surpresa: o Diretor de Esportes de um Centro sem coisa alguma NÃO QUEIRA a Capoeira lá ! Chamava-se Imar ! Quem era ?! Fôra vice-presidente do nosso Centro Cultural - CCCP e eu o afastara por ter apoiado o "Batizado" de um desses espertalhões tão prejudiciais à coletividade e para a Capoeira. Esse "mestre Pastinha" -- não o Imar, o "batizador" -- recebeu de n ós tal apelido por andar sempre com maleta, ao dar "seus golpes" no comércio local. É de se crer que continue no "mesmo trilho", com a tranquilidade dos "sortudos" dessa Vida. Em nov./1990 um jornalzinho de Belém falava de nosso show anual no TWH (repetido em 1991) e, no final da página, de aulas (?!) de um grande mestre em universidade rural de Belém. Fui ao local prevenir a Direção que êle não cumpria nada do que prometia. Alertei-a também sobre o "mestre Pastinha"... com aquele perfil passara por lá um professor... de Karatê chamado Antônio. Tempos depois, já em 1991, enquanto jornaleiro, passa por mim às 6 da manhã um grupo de jovens vestidos de "kungfu", belas roupas de seda. À frente dele... nosso "mestre Pastinha" ! Morava no bairro Cidade Nova 8 na época e dava aulas de "Muai Thai" (adiante Boxe) num centro comunitário na praça local.

Em meados de 1991 imensa área de terra foi invadida, ônibus chegando lotados de Belém, gente de todos os lugares. Sem poder construir um conjunto habitacional, o Governo optou por lotear a área, legalizando os invasores. A estatal que nos negara uma nêsga de terra para o CCCP, agora dava às toneladas. Foram 3 ou 4 páginas de nomes, 1500 felizardos... contei linha por linha, li e reli, comparei, anotei ! Eram só 1232 nomes, vários deles REPETIDOS e só a Família "Pereira da Silva" recebera 23 lotes, outras de 3 a 10, gente registrando recém-nascido como "morador". Entre êles, o nome completo de "mestre Pastinha", acrescido de um ANTÔNIO na frente e de um outro no meio do nome real com o qual eu o conhecera. O Destino adora rir de nós, mortais... a seu favor apenas o fato de que foi êle que conseguiu -- nunca me disse como -- a verba que a LBA doou ao CCCP por volta de setembro de 1988. (Essa verba também tem "história", que fica "pra próxima" !) Exigiu cargo de instrutor, que lhe neguei, sabia muito pouco de Capoeira... que conseguisse alguém competente, êle supervisionaria, ficando com parte da verba. Arrumou um "doido", jovem rude e despreparado, um espanto ! Saiu com 5 ou 6 alunos, de um "microCentro" para um Motel. Argumentei que aquilo era um absurdo ! Adiante, soube que instalara o insano numa Creche ! Fui falar com a diretora... estava apavorada, o "mestre" punha as crianças de castigo sem motivo nenhum ! Foi dispensado em 2 semanas ! Pouco depois, fim de 1988, aconteceria o tal "batizado" que gerou o afastamento do "diretor de esportes" citado antes.

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Atualmente, na Internet não se pode mais contar histórias, ainda que reais, verdadeiras. Podem virar DIFAMAÇÃO se o citado não gostar do que ler, simples assim ! Com relação à LBA, 2 fatos curiosos: o servidor dela -- um certo RENATO LÚ, adiante músico e cantor -- que negou por vários meses verba para nosso Centro Cultural, vê agora a Capoeira NO MUNDO inteiro. E o sujeito para o qual liberou verba (na minha frente), justo para o Centro que nos expulsaria tempos depois, embolsou a "grana", mudou-se com a família e, com a sorte de todo patife, viu a LBA extinguir-se uns 2 anos depois. E ainda querem que eu conte tais "histórias" ! Dá para entender uma sandices dessas !

(NATOAZEVEDO - em 31/dez. 2020, 21hs)