Resistentes

O ser humano é um ser sagaz. Ele faz da sua vida uma profissão de superação diária. Quando dado como "morto", ele está bem vivo espreitando o que fazer. Qual presepada preparar para os próximos momentos.

Ele muitas vezes tem a "rua" como professora. A rua que é o caminho que lhe leva ao trabalho, a igreja, ao estádio de futebol, ao bordel, aos bares, aos encontros amorosos.

A rua ela parece diferente dependendo como você está passando por ela. Quando você passa de dentro de um veículo particular, com ar-condicionado ligado, ela parece um local estranho aos seus olhos sossegados em uma poltrona confortável. Até você se sente bem importante.

Mas você também pode estar passando pela rua dentro de um ônibus cheio. E tudo que se consegue perceber é o barulho das pessoas conversando, o som do freio, as pessoas subindo e descendo em cada parada pelo caminho.

Tem também aquela passagem pelas ruas, numa bicicleta como é desafiador. Passar entre carros, caminhões, buzinas, sinais, mas sentimos a cidade viva pulsar no nosso corpo.

Ou simplesmente o andar pela rua, a pé, pisando passo a passo em cada esquina. Se for num domingo em uma rua deserta olhamos quem vem atrás da gente, quem vem ao contrário. Quem está parado nas esquinas. Quem está passando de bike ou de moto, pode ser assalto?

A pé pelas ruas de Fortaleza eu vou. Avenida Duque de Caxias, que lá na frente vira Heráclito Graça, no caminho restaurantes, praças, pessoas jogadas em situação de penúria. Avenida Barão de Studart, 15h da tarde, o calor é de rachar o "chifre", a quintura que sobe pelas pernas e passa pelo corpo, até chegar na garganta é grande.

Por isso vou procurando sombras pela rua: Torres Camara, caminhando em direção a Joaquim Nabuco, sempre se encontrando com um solitário ou solitária que nos amedronta ou amendrotamos eles.

Cortando com o tênis gasto, surrado, as avenidas Dom Luis, Santos Dumont, um minúsculo homem entre predios gigantes e pessoas isoladas em suas residências.

Dobrando na Pereira Valente corto, a Oswaldo Cruz, Visconde de Mauá e me encontro na Avenida Desembargador Moreira. Destino: partiu Beira Mar de Fortaleza.

O Mar que corta nossa orla, que proporciona os jangadeiros a pesca que nos alimenta, alimenta o turista, com suas familias, o gringo que busca carinho entre a carência cearense.

Os ambulantes que teimam em a cada dia existir em um mundo tão duro com eles. As pessoas de classe média, os ricos que caminham no seu exercício diário.

Todos nós somos um pouco resilientes. Somos pessoas que não queremos morrer. Apesar se tudo ao redor cheirar a morte.

É nessa alvorada diária que fazemos o nosso viver, sempre acreditando que amanhã pode ser melhor.

Carlos Emanuel
Enviado por Carlos Emanuel em 28/12/2020
Reeditado em 28/12/2020
Código do texto: T7145807
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