O INIMIGO AINDA ESTÁ DE PÉ.
A luta já muito em dissabores, arrastando-se
por dias infinitos,
Guerra essa silenciosa no derradeiro ano começada, invisível se espalhando,
Ouviam-se músicas, comia-se e bebia-se no vindouro ano gêmeo,
Multidões em festas, fogos, carne, orgias a beira das praias,
O silencioso inimigo se espalhava, sem que o percebessem, alojado em corpos ocos,
A solitária voz que Oriente nos alertava, foi fatal vítima do terror inicial,
Multidões, risos, lágrimas, presentes e planos tão bem traçados,
Tudo era ilusão, a tímida notícia de certo vírus parecia sem importância,
No entanto, a voz que do Oriente nos gritou, sabia do perigo que se aproximava.
Deram-lhe um nome, não lhe conferiram créditos, mas lá estava ele, silencioso,
Vítimas que uma após outras tombavam em campo de batalha,
Sonhos e planos que se desfaz como fumaça,
Iniciava-de os primeiros esboços de diálogos, de possibilidades que não julgavam necessárias e possíveis,
Homens de gravatas em suas mansões, não se importavam, como ainda não se importam,
O monstro silencioso começava a mostrar as suas garras afiadas,
Que animal mais estranho? Diziam uns para os outros,
Ninguém estava preocupado com as possíveis consequências do vírus que rápido se espalhava,
Faltava-lhes o ar, pulmões comprometidos, vidas interrompidas,
Todos foram previamente avisados… Não…Não deram ouvidos, cegos, não víamos o óbvio.
Respiradores comprados às pressas para ajudar aos mais idosos,
São eles, os idosos, diziam, as principais vítimas, contudo, o inimigo mostrou-se mais astuto,
A terra das sete colinas foi aos poucos sendo solapada,
A morada do papa ficou, repentinamente, vazia, todos se esconderam em seus montes,
A quarentena foi anunciada, cidades foram fechadas, ruas desertas,
Medo tomou conta das ruas do velho continente,
Os mais jovens, aqueles que se achavam intocáveis ao ataque, tombaram,
Quem deu ouvidos às palavras primeiras que do Oriente foram gritadas,
Dias e noites que se completavam em silêncio e isolamento,
Mas, de fato, houve muitos que duvidavam da veracidade dos fatos, pobres vítimas.
A América desfilava com seus saltos altos em passarelas escorregadias,
O inimigo era astuto, no erro de uns, todos foram atingidos, direta e indiretamente,
As fábricas começavam a parar, uma a uma, máquinas e homens sendo desligados,
Alguém dizia que esse era o início do fim, início do apocalipse,
A medicina em sua insana luta na tentativa de frear o gigante,
Homens de jaleco branco, também não escaparam, na linha de frente eram os primeiros alvos,
Um mundo sem voz, sem música, sem festas e nem orgias nas praias, nem carros nas ruas,
Tudo era silêncio, como nunca se teve, e talvez nem haverá,
'Somos todos uma ilha, a milhas e milhas de qualquer lugar', já dizia a canção.
O fim do ano gêmeo se aproxima, a pandemia… Desfila imponente perante olhos cegos,
Na terra de Gigantes, os mortos se acumulam em inúmeras covas,
Pior talvez que os demais, entristeço-me, silêncio,
Na poesia dessa crônica encerro minha fala,
Desejo-lhes, amados e queridos leitores, dias melhores…
Desejo-lhes, esperança, amor e Paz,
Desejo-lhes, que talvez amanhã acordamos, e que tudo isso não passe de um terrível pesadelo…
No entanto,
Mesmo perante vacinas apressadas,
O inimigo ainda está de pé.