Cafundós-do-Judas ou do rio São Francisco?
Numa de suas obras literárias mais conhecidas - Dona Flor e seus dois Maridos - o escritor baiano Jorge Amado utilizou a expressão "Cafundós do rio São Francisco", significando sua distância para Salvador, onde se desenvolve o cenário daquele romance. Considerando a época, mesmo um autêntico ribeirinho do São Francisco não vai imaginar que o termo teria o tom pejorativo. Mesmo a cidade de Juazeiro, a mais desenvolvida do submédio São Francisco, que à época já contava com ferrovia ligando à capital, ainda parecia muito distante. Cidades ribeirinhas de Sergipe estão mais próximas de Salvador do que qualquer outra da Bahia. E eu, nas minhas andança pelos quatro estados nordestinos, Bahia, Pernambuco, Sergipe e Alagoas, cheguei a morar em cinco municípios banhados pelo São Francisco, o rio da Unidade Nacional, o Velho Chico. Hoje, graças o desenvolvimento dos meios de transporte, já não estamos nos "Cafundós-do-Judas", como diria Jorge Amado. Não importa o termo empregado pelo autor, de quem eu tenho o privilégio de ter em minha estante 26 volumes de suas obras. E o renomado escritor, conterrâneo do meu pai, também foi contemporâneo. Nasceu no mesmo ano. Para ele eu tiro o chapéu e diria que não moro mais no Cafundó do Judas.