Palavras Vivas
Palavras... O que é esse universo de palavras que me rodeia? O que são essas palavras que quando estou adormecida brincam de esconde-esconde nos meus sonhos? Quando desperta, esse turbilhão de palavras passeia em minha mente, unidas em rodas cantadas, formam uma ciranda inconsequente? Seria um emaranhado de ideias transcendentes além de um simples conjunto de letras que comunica e impacta...
Palavras, que fizeram morada nos muros das cavernas, migraram para o papel, sobreviveram ao tempo e ao espaço dançando a própria melodia do mistério da origem da vida, da história, do futuro da ciência e chegaram até as telas digitais.
Em tudo, sinto a presença das palavras: faladas, escritas, gestuais, visuais e até as subjetivas. Tenho admiração pelas palavras que acalentam, apaziguam, motivam... Amo palavras de superação, de esperança, de compaixão, de fé e de gratidão. Elas transmitem significado, traduzem mensagens, solucionam casos, realizam sonhos, apaziguam e emocionam pessoas... Identifico-me com algumas palavras, tenho profundo respeito por outras. Palavras que pronuncio produzem um eco que desconheço. As palavras bem ditas decidem destinos, as mal ditas e as não ditas, também. As certas me transmitem segurança, mas as erradas me impulsionam. As convenientes simulam, mas as críticas transformam, rompem barreiras. Elas também são palavras necessárias.
As palavras costumam inquietar a minha mente, ferver como um vulcão em meu peito, porém emudecem na garganta. O sabor misterioso que as palavras oportunizam fazem-me vivê-las, gozá-las e me embriagar. Elas me perturbam, me levam ao céu, me mostram o inferno; ora são meu bem, ora são meu mal. Impossível bloqueá-las! Assim, silenciosamente, se manifestam em palavras líquidas que saem pelos meus olhos.
À noite pousam em meu leito a companhia de um caderno, uma caneta e muitos sonhos... E então elas cumprem o seu destino: viajam pelos meus dedos, fazem a caneta dançar e pousam no papel. É desnecessário tentar sempre compreendê-las. Algumas vezes, só preciso vivê-las. Na maioria das vezes, escrevo-as quando me sinto no escuro. Escrevê-las é a luz no final do meu túnel, é uma necessidade (quase que) fisiológica, é saciar a minha alma, é o meu refúgio mais que secreto de estar viva. Sinto uma felicidade inexplicável nesse universo inesgotável das palavras.
Janaína Bellé