PARANOIA
Sou assim, acho que de muito tempo, o meu horário de acordar independe do horário em que me deito. Então nesta madrugada de natal, mesmo tendo me deitado muito tarde, às quatro e trinta já estava acordado, tendo quando muito enrolado uns cinco minutos na preguiça.
Cinco e dez saí para a caminhada, o tempo muito nublado me fez optar por não ir muito longe, caminhei em uma direção e retornei indo na direção contrária naquela avenida com pista de caminhar no canteiro central.
Nem preciso dizer que não havia absolutamente ninguém além de mim na rua, um ou outro carro que passava, com alguém parecendo embriagado me gritando feliz natal.
Chegando no extremo, que não era tão longe, já não havia mais nenhum indício de chuva, resolvi então seguir em outra direção, para uma recém construída avenida, com pista pra caminhar, muita área verde e bairro ainda com poucas casas.
Fui caminhando tirando fotos das lindas paisagens.
Até por não achar interessante, quando me aproximei do hospital existente por onde eu iria passar, onde também tem alguns condomínios fechados com portarias para a avenida, deixei de tirar fotos.
Observei que nas proximidades e nas portarias dos condomínios, haviam veículos de uma empresa de segurança patrimonial, estacionados.
Passei em frente as portarias dos condomínios e cheguei na outra avenida tomando o sentido de volta.
Talvez não tivesse caminhado mais que cem metros, surgiu um automóvel Toyota desses grandes, todo fechado, preto e com vidros muito escuros, fez uma manobra suspeita e inesperada na minha frente, como se fosse me abordar e depois fez uma outra manobra estranha retornando pela mesma rua que veio.
Não foi possível enxergar nem o motorista e muito menos se havia mais alguém dentro daquele grande veículo, que pelo estilo e movimento brusco, fez-me lembrar das Chevrolet /Veraneio, que na época da repressão militar, equipava as forças policiais, que por vez ou outra interpelava as pessoas na rua, mandando-as erguer os braços ou que deitassem no chão, ou ainda do que a gente ouvia dizer sobre o Esquadrão da Morte.
Mais estranho foi o fato que por coincidência ou não, no mesmo momento surgiram dois veículos da empresa de segurança, vindos de direções diferentes, como se eu estivesse no ponto em que aqueles três veículos se encontrariam. Dali cada um tomou o seu rumo.
Lembrei-me que recentemente em um daqueles condomínios de luxo, houve um assalto de proporções cinematográficas .
Alguns pensamentos me vieram à mente. Será que aqueles veículos foram no meu encalço por me considerar suspeito de alguma coisa, já que era uma data e horário incomum de alguém caminhar, sendo verdade que ninguém mais eu encontrei na minha caminhada.
Acreditar nisso é não confiar naquela empresa de segurança, pois seria uma paranoia das maiores, inadmissível em um serviço de inteligência. Quero acreditar que não tenha passado de coincidência, pois se acreditar no contrário, a paranoia seria minha.