O Natal, o Ano Novo e as famílias de comerciais de margarina...
Em 1971, John Lennon gravou uma música natalina (Happy Xmas, War is Over), mais com o intuito de alertar para a sangrenta guerra do Vietnã, então em curso, em plena Guerra Fria. E que depois, os EUA vergonhosamente perderam... Para o bem dos homens de bem.
2020. Estamos novamente na época das festas de fim de ano, apesar de um indesejado coronavírus entre nós. Não dá nada. Chegou o Natal, chegou o Ano Novo! Paz na terra aos homens de boa vontade! Viva o início de um novo ciclo, que “obrigatoriamente” deve ser melhor que o anterior... Melhor? Muita emotividade, muita união, muito afeto entre as famílias. Não. Infelizmente não. A maioria das pessoas reais não correspondem à imagem representada nos comerciais de margarina, onde todos são bonzinhos e se amam. Não. As pessoas reais, com raras e louváveis exceções, são agressivas, invejosas, mesquinhas, controladoras e egocêntricas. Se não se odeiam ostensivamente, o fazem em silêncio, de forma velada. Ah, e sempre tem razão. Aqui a coisa é ringue na lama mesmo, o sangue correndo.
Eu nunca gostei muito do Ano Novo, nunca me pareceu fazer sentido comemorar a virada de um calendário onde a sequência, se não fosse igual a anterior, seria ao menos muito parecida. Como diz a música dos Engenheiros do Hawaii, “o último dia de dezembro é sempre igual ao primeiro de janeiro”. A minha data comemorativa predileta sempre foi o Natal, como católico por seu profundo significado religioso, como homem de família pela proximidade com quem eu amava. Amava, pois as pessoas que me eram mais caras me adoeceram. Eu hoje sou um cara quebrado... Há alguns anos não tenho mais Natais, como eram antigamente pra mim. Infelizmente a minha família, como tantas outras reais, não é de comercial de margarina. Infelizmente a minha é mais real que as outras.
A única (e melhor alegria) que me sobrou do Natal é a presença do meu filho. Ver a felicidade dele comigo, com os presentes que lhe dou nessa data não tem preço. Graças a Deus, há dezesseis anos eu tenho conseguido cumprir com esse voto. Mesmo no ambiente triste e conflituoso da minha casa, meu menino faz questão de passar comigo a “noite feliz”, para me dar uma força e me fazer companhia. A memória dos primeiros Natais que passamos juntos é o melhor que tenho comigo, bebê e pequeno menino... Aquele realmente foi um tempo especial e inspirador.
Acho que, como diria John Lennon, ainda mais importante que desejar um feliz Natal é dizer: parem a guerra... Parem a guerra entre as pessoas que vivem e convivem juntas, diariamente devorando o fígado umas das outras. Sobretudo as que, em casa, são uma coisa e para os de fora aparentam uma versão totalmente diferente. Falsificada. Não são dois dias de confraternizações encenadas que vão me curar de um ano de envenenamento e loucura diários. Parem a guerra. E paz na terra aos homens de boa vontade...