As Pedras e Eu
As Pedras e eu
Toda a minha vida interessei-me por essas formações da natureza e o que inspiram, desde os seixos rolados às pedras ditas preciosas, essas mais pela beleza gestada dentro da terra, que pelo valor.Quando eu estava em Belém do Pará, ficava louca pelos geodis:parte-se uma pedra feiosa e lá dentro estão drusas, de cristais a águas marinhas...As ágatas, que formam no cerne ondas de cores degradées, as fatiadas sendo usadas em artesanato como porta-copos ou sinos de vento...A dignidade da pedra total, ali fragmentada...Às vezes, eu ficava procurando,em alguma loja dessas que nessa capital do Norte brasileiro, porta de entrada para a Amazônia, num monte de metades, onde estaria a parte que faltava-como as pessoas sempre a procurar seu outro lado.Uma vez, encontrei:aproximei duas partes que se encaixaram perfeitamente, fato raro, como as ditas almas gêmeas que se buscam através dos tempos...
Estudei, no início da adolescência, em Itajubá, cidade do sul de Minas-que mais tarde seria chamada de Tecnópolis, por causa de seu grande avanço em tecnologia.Ita em língua indígena significa Pedra.Então,” pedra amarela”.Mas havendo uma versão outra, “água que escorre da pedra”, a garota(não eu) que desfilou em carro aberto no aniversário da cidade, estava envolta em muitas camadas de azul papel celofane para simbolizar as ditas águas.Evidentemente, ela sendo a pedra donde escorria água.E os rapazes da cidade a soltar o fio do imaginário sobre esse corpo semi-revelado.Eram os anos sessenta e a cidade, pequena,então.
Em meu consultório, tenho várias pedras trazidas por pacientes que conhecem-me o gosto.Um garoto, o Breno,muito lindo e inteligente, trouxe-me uma pedra que mergulhou para achar ,no fundo da represa de Três Marias, onde os pais têm uma casa para as férias.A mãe deu-se ao trabalho de envernizá-la.Gosto de sopesá-la no côncavo da mão.Tem poderosa energia.Vê-se que foi muito rolada, como as pessoas a quem a vida nada poupa.Dizem os místicos que se você encontra uma pedra de rio naturalmente furada, ela é curativa.Em casa, deve ser colocada em copo virgem , com água mineral ou de fonte.Pelo menos que seja filtrada.Se deixada ao luar, mais potencializada para a cura, fica.Bebe-se a água para sarar as mazelas do corpo...
Marlene trouxe-me quartzos rosas, brutos, que achou perto de uma árvore. Eli, em Belém, que é uma nativa e curandeira nata, poetisa e desenhista refinada, comprou numa exposição, pedras acinzentadas, achatadas e lisas, que teriam vindo de outro planeta.Poderosas...
Onde vou, cato uma .Desde que existam,pois na selva de asfalto das capitais é impossível.
Quando me casei, meu marido, que é fechado para revelar sentimentos não hostis e que estava amando e curando antigas feridas emocionais, ouviu, perplexo, meu pedido de que trouxesse uma pedrinhas cortadas em cubos irregulares, para que eu nelas pintasse casinhas cheias de detalhes e vida:janelas com panelas a secar, jardineiras com jardins e pássaros, borboletas, pessoas à porta. Morando na capital de Minas, Belo Horizonte, eu reparara que nas ruas, havia muitas, usadas em calçamentos de calçadas para formar desenhos-as escuras se alternado às claras-soltas pelo tempo ou descaso do bicho homem...”-Mas como(eu, um engenheiro, deve ter pensado sem externar) vou CATAR pedras na rua?!
Mas à tarde, chegou sorridente, cheio de pedras no bolso.A maneira de declarar seu amor que tantas vezes tive de decodificar,tal a sua dificuldade de falar de amor.No início, mas acabou contaminado pelo meu mel da minha Poesia...
Quando estamos a nos queixar de vicissitudes,minha irmã Cleone fala:”Não é possível!Você não chegou pedras na cruz”Reza a tradição que o nazareno, já crucificado foi apedrejado, logo ele que exortou aos que queriam punir Maria Madalena lapidando-a por ser uma etária e ter consolado, com seu corpo,a tantos daqueles homens :”Aquele que nunca pecou, que atire a primeira pedra”...Há uma música popular brasileira que tem estes versos:
”Que atire a primeira pedra,ai, ai
Aquele que não sofreu por amor”(...)
Teme-se as pedradas, sempre.Diz-se que muitos apedrejam sem perceber que também têm telhado de vidro.Há pedras,que não o são:feitas de argila expandida, usadas em decoração...as criadas nos antigos filmes de catástrofes, para rolar de despenhadeiros ou de construções ruindo, como Victor Mature sendo Sansão e segurando o templo que se desmanchava...
O rei David que foi poeta e amante do belo-inclusive mulheres-conquistou seu lugar de rei , na tribo que teve o seu nome, cumprindo as profecias,usando uma funda para atacar ao gigante Golias com uma certeira pedra que o nocateou.Era a época em que na Terra jovem , ainda havia gigantes, para construir aquelas enormes edificações , decerto-e aparecendo na Mitologia de muitos povos...
O que nos incomoda é uma pedra-no-sapato.Uma pedrinha que seja,nos fere a pele sensível dos pés.E nos faz mancar.Para continuar,há que se ter iniciativa ou coragem:é preciso abaixar-se, tirar o calçante e se livrar até do mínimo grão de areia que nos incomoda...
A um casal que se cobrava falta de atenção mútua, entreguei,num saquinho de veludo, para ele, um quartzo rosa, para simbolizar a esposa.Para ela, uma ágata azul,para lembrar-se do esposo.Ambos profissionais ocupados, mesmo se amando, às vezes esqueciam de se falar, e trabalhavamem cidades diferentes durante a semana útil.Daí, passaram a, toda vez que tocavam a pedra(deveriam carregá-la sempre, no bolso ou na bolsa) ligar para o outro,ou quando a saudade apertasse.A época é de telefonia celular, então passaram a dar-se “toquinhos” ou mensagens, mesmo não podendo conversar:”Eu estou aqui e penso em ti”, era o recado para o coração.A irritabilidade desenvolvida num momento de carência e crise, foi-se...Muitas vezes,no consultório, uso desses métodos pouco ortodoxos...
Certa feita, encontrei em uma praia, uma pedra na areia escaldante de meu Estado natal, em NATAL, a chamada Terra do Sol,que tinha o formato perfeito de um coração.Eu estava voltando às origens, já adulta jovem e levando meu filho mais velho Alessandro que foi carregado até pela idosa D.Donzinha, uma parteira que ajudou a natureza adolescente de minha mãe a dar-me à luz.Tinha o coração mais que partido, recentemente separada do poeta de olhos violeta que por sofrer seqüelas da Ditadura, não dava conta de ser feliz de verdade.Achar a pedra foi para mim uma sinalização do Alto:um coração refeito, rígido como uma pedra, proibido de novamente fragmentar-se.E assim foi...
Clevane pessoa de araújo Lopes,
Belo Horizonte,MG,2005-Br
As Pedras e eu
Toda a minha vida interessei-me por essas formações da natureza e o que inspiram, desde os seixos rolados às pedras ditas preciosas, essas mais pela beleza gestada dentro da terra, que pelo valor.Quando eu estava em Belém do Pará, ficava louca pelos geodis:parte-se uma pedra feiosa e lá dentro estão drusas, de cristais a águas marinhas...As ágatas, que formam no cerne ondas de cores degradées, as fatiadas sendo usadas em artesanato como porta-copos ou sinos de vento...A dignidade da pedra total, ali fragmentada...Às vezes, eu ficava procurando,em alguma loja dessas que nessa capital do Norte brasileiro, porta de entrada para a Amazônia, num monte de metades, onde estaria a parte que faltava-como as pessoas sempre a procurar seu outro lado.Uma vez, encontrei:aproximei duas partes que se encaixaram perfeitamente, fato raro, como as ditas almas gêmeas que se buscam através dos tempos...
Estudei, no início da adolescência, em Itajubá, cidade do sul de Minas-que mais tarde seria chamada de Tecnópolis, por causa de seu grande avanço em tecnologia.Ita em língua indígena significa Pedra.Então,” pedra amarela”.Mas havendo uma versão outra, “água que escorre da pedra”, a garota(não eu) que desfilou em carro aberto no aniversário da cidade, estava envolta em muitas camadas de azul papel celofane para simbolizar as ditas águas.Evidentemente, ela sendo a pedra donde escorria água.E os rapazes da cidade a soltar o fio do imaginário sobre esse corpo semi-revelado.Eram os anos sessenta e a cidade, pequena,então.
Em meu consultório, tenho várias pedras trazidas por pacientes que conhecem-me o gosto.Um garoto, o Breno,muito lindo e inteligente, trouxe-me uma pedra que mergulhou para achar ,no fundo da represa de Três Marias, onde os pais têm uma casa para as férias.A mãe deu-se ao trabalho de envernizá-la.Gosto de sopesá-la no côncavo da mão.Tem poderosa energia.Vê-se que foi muito rolada, como as pessoas a quem a vida nada poupa.Dizem os místicos que se você encontra uma pedra de rio naturalmente furada, ela é curativa.Em casa, deve ser colocada em copo virgem , com água mineral ou de fonte.Pelo menos que seja filtrada.Se deixada ao luar, mais potencializada para a cura, fica.Bebe-se a água para sarar as mazelas do corpo...
Marlene trouxe-me quartzos rosas, brutos, que achou perto de uma árvore. Eli, em Belém, que é uma nativa e curandeira nata, poetisa e desenhista refinada, comprou numa exposição, pedras acinzentadas, achatadas e lisas, que teriam vindo de outro planeta.Poderosas...
Onde vou, cato uma .Desde que existam,pois na selva de asfalto das capitais é impossível.
Quando me casei, meu marido, que é fechado para revelar sentimentos não hostis e que estava amando e curando antigas feridas emocionais, ouviu, perplexo, meu pedido de que trouxesse uma pedrinhas cortadas em cubos irregulares, para que eu nelas pintasse casinhas cheias de detalhes e vida:janelas com panelas a secar, jardineiras com jardins e pássaros, borboletas, pessoas à porta. Morando na capital de Minas, Belo Horizonte, eu reparara que nas ruas, havia muitas, usadas em calçamentos de calçadas para formar desenhos-as escuras se alternado às claras-soltas pelo tempo ou descaso do bicho homem...”-Mas como(eu, um engenheiro, deve ter pensado sem externar) vou CATAR pedras na rua?!
Mas à tarde, chegou sorridente, cheio de pedras no bolso.A maneira de declarar seu amor que tantas vezes tive de decodificar,tal a sua dificuldade de falar de amor.No início, mas acabou contaminado pelo meu mel da minha Poesia...
Quando estamos a nos queixar de vicissitudes,minha irmã Cleone fala:”Não é possível!Você não chegou pedras na cruz”Reza a tradição que o nazareno, já crucificado foi apedrejado, logo ele que exortou aos que queriam punir Maria Madalena lapidando-a por ser uma etária e ter consolado, com seu corpo,a tantos daqueles homens :”Aquele que nunca pecou, que atire a primeira pedra”...Há uma música popular brasileira que tem estes versos:
”Que atire a primeira pedra,ai, ai
Aquele que não sofreu por amor”(...)
Teme-se as pedradas, sempre.Diz-se que muitos apedrejam sem perceber que também têm telhado de vidro.Há pedras,que não o são:feitas de argila expandida, usadas em decoração...as criadas nos antigos filmes de catástrofes, para rolar de despenhadeiros ou de construções ruindo, como Victor Mature sendo Sansão e segurando o templo que se desmanchava...
O rei David que foi poeta e amante do belo-inclusive mulheres-conquistou seu lugar de rei , na tribo que teve o seu nome, cumprindo as profecias,usando uma funda para atacar ao gigante Golias com uma certeira pedra que o nocateou.Era a época em que na Terra jovem , ainda havia gigantes, para construir aquelas enormes edificações , decerto-e aparecendo na Mitologia de muitos povos...
O que nos incomoda é uma pedra-no-sapato.Uma pedrinha que seja,nos fere a pele sensível dos pés.E nos faz mancar.Para continuar,há que se ter iniciativa ou coragem:é preciso abaixar-se, tirar o calçante e se livrar até do mínimo grão de areia que nos incomoda...
A um casal que se cobrava falta de atenção mútua, entreguei,num saquinho de veludo, para ele, um quartzo rosa, para simbolizar a esposa.Para ela, uma ágata azul,para lembrar-se do esposo.Ambos profissionais ocupados, mesmo se amando, às vezes esqueciam de se falar, e trabalhavamem cidades diferentes durante a semana útil.Daí, passaram a, toda vez que tocavam a pedra(deveriam carregá-la sempre, no bolso ou na bolsa) ligar para o outro,ou quando a saudade apertasse.A época é de telefonia celular, então passaram a dar-se “toquinhos” ou mensagens, mesmo não podendo conversar:”Eu estou aqui e penso em ti”, era o recado para o coração.A irritabilidade desenvolvida num momento de carência e crise, foi-se...Muitas vezes,no consultório, uso desses métodos pouco ortodoxos...
Certa feita, encontrei em uma praia, uma pedra na areia escaldante de meu Estado natal, em NATAL, a chamada Terra do Sol,que tinha o formato perfeito de um coração.Eu estava voltando às origens, já adulta jovem e levando meu filho mais velho Alessandro que foi carregado até pela idosa D.Donzinha, uma parteira que ajudou a natureza adolescente de minha mãe a dar-me à luz.Tinha o coração mais que partido, recentemente separada do poeta de olhos violeta que por sofrer seqüelas da Ditadura, não dava conta de ser feliz de verdade.Achar a pedra foi para mim uma sinalização do Alto:um coração refeito, rígido como uma pedra, proibido de novamente fragmentar-se.E assim foi...
Clevane pessoa de araújo Lopes,
Belo Horizonte,MG,2005-Br