A FLOR MAIS BELA.
Ela se veste de beleza, traz no olhar todo o seu encanto, toda candura de uma alma elevada. Não há no Jardim do Olimpo, flor mais bela, não há semelhante perfume entre as ninfas, sua voz é suave, de harmônico canto, no monte dos deuses não há nada igual a essa musa.
Ela desfila sua majestade entre os pobres mortais, os encanta com a mágica de seu sorriso. O brilho que dela emana ofusca as estrelas, o luar se rende a cada gracejo, as rosas ao vê-lá pela manhã enobrecem, desmaiam de amor.
Sou esta sombra à espreita, este observador silencioso, maravilhado com a curva sutil de tão formosos lábios, de um vermelho intenso, incendiando o meu coração, enlouquecido, já não sei o que fazer. Quisera eu beijar-lhe a face com os mais ardentes beijos.
Eu não sei o nome dessa bela jovem, esta ninfa que do templo de Afrodite viera para atormentar-nos, errantes mortais. Sou apenas este ser desqualificado, buscando nas palavras algum sentido, entretanto, quando a luz dos olhos meus e luz dos olhos dela puseram a se encontrar, assim tão, de repente, em uma agradável noite de luar, tudo passou a ser diferente.
Cada palavra que da alma arranco, cada uma, não poderá jamais, por mais eloquente que seja, definir magnânimo que se afigura diante de mim.
Os cabelos longos, em belos e feiticeiros cachos, parecem dançar ao doce soprar do vento, fazendo de seus observadores escravos hipnotizados. Os seios fartos, a pele clara molhada pelo orvalho, as flores que enfeitam os seus cabelos, me chamando pelo nome. Veja que as estrelas se esconderam, estão envergonhadas por terem na terra ser mais luminoso. Quanto às flores, elas se entregam embriagadas diante de uma obra-prima.
Nada há de mais belo… Obra divinamente inspirada, em cada detalhe, pintado com maestria e paixão, revelando nas cores cintilantes toda a loucura desse desconhecido artista.
Quem é esta moça na pintura?
Quem é esta que me prendeu a atenção?
Que fez de mim poeta novamente! A noite vem chegando lentamente, me dizendo que tenho que ir embora. Não posso privar os meus olhos desta tela tão esplêndida, quem a fez certamente tinha ciência de que criará no olhar dessa moça as cadeias que encerram inocentes corações.
Despeço-me deusa errante sem nome, se deveras existes, se porventura estiveres na esfera do globo terrestre, de fato és, entre estes mortais a deusa da beleza. Diga-me, guardiã do templo… Diga-me quem dará crédito às minhas palavras? Vou-me embora, sem rumo, sem direção, caminhando ao sabor do vento, ainda preso à memória de tão fulgurante olhar. O mundo já não é o mesmo, somos todos cegos, loucos de máscaras no rosto.