GUARDANDO CARROS

GUARDANDO CARROS

Houve uma época que, nas férias escolares, eu resolvi ser guardador de carros. Escondido de minha mãe ia para a Praça João Pessoa e aguardava os automóveis estacionarem. Oferecia meus serviços e conseguia ficar olhando um ou outro veículo na esperança de ganhar uns trocados. Sem malandragem,sem brigas, apenas para receber uma gorjeta. Quando o motorista não pagava nada, eu aceitava a negativa e aguardava outro carro. O máximo era cuidar do carro dos Yamauti. Um belíssimo Cadilac Fleetwood preto, pneus dom faixas brancas, bancos de couro e direção bege claro, trincos e maçanetas prateados. O vidro das janelas era branco, pois não havia Insufilm, e a gente podia ficar apreciando o interior daquela maravilha. Os quebras-vento, eram acionados por duas pequenas maçanetas e o vidros eram elétricos, que chamávamos de automáticos. O carro era hidramático, freios hidráulicos, maravilhoso. Acho que era o único Cadilac de São Vicente. Seu Yamaúti descia do carro,olhava para aquele moleque e fazia um imperceptível sinal com a cabeça. Era só aguardar que duas ou três horas depois certamente vinha uma paga. Rapidamente minha mãe acabou com minhas pretensões. Ao passar pela Praça, dona Zeny me viu:

-Paulinho que você está fazendo?

-Guardando carros!

-O que? Está louco? Você não precisa disso!

-Mas, mãe...

-Já pra casa!!!

Obedeci e levei umas chineladas. A cena se repetiu e rendeu uma surra de verdade, que acabou com minha nova profissão.

Paulo Miorim 19/12/2020

Paulo Miorim
Enviado por Paulo Miorim em 19/12/2020
Código do texto: T7139712
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