Piada de velho, para velhos - uma crônica

     Quando completei sessenta anos, demorei um pouco convencer-me de que fazia jus ao adjetivo sexagenário. Pensei com meus botões, aliás, com meus calendários, tenho sessenta anos, mas não sou sexagenário. Lembrei-me daquela piada:

     Duas pessoas conversam. Uma delas aponta discretamente para um senhor ao longe e confidencia:
          - Sabia que ele é sexagenário?
          E a outra:
          - Que vergonha... naquela idade?

      Quando completei 70 anos atualizei, por conta própria, aquela piada:

     Duas pessoas conversam. Uma delas aponta discretamente para um senhor ao longe e confidencia:
          - Sabia que ele é septuagenário? Pois é, setenta anos... setenta anos!
           E a outra:
       - Olha, quer saber de uma coisa? Eu não sou preconceituoso. Só acho só que os velhos são um pouco dependentes, não se cuidam e ficam feios, muitos têm doenças crônicas, outros são hipocondríacos... Mas acho um crime ser preconceituoso. Eu não sou. A prova disso é que tenho até amigos com mais de setenta anos.

          A velhice tem suas surpresas programadas, e chegam quando a gente menos espera. Mais de uma vez já aconteceu comigo estar diante de uma circunstância em que sou instado a informar minha idade. Preenchendo formulários cadastrais, por exemplo. Ou, quando desatento à idade que tenho, me atrevo a fazer algum cursinho de fim de semana (desenho, informática, coisas assim), e sou surpreendido com a constatação de que sou o único velho na turma. O comentário é infalível:

           - Parece que foi conservado em formol!

          Eu fico então sem saber se é elogio, ofensa ou piada. Ou as três coisas juntas.
          O estranhamento que sinto acho que é causado pela minha inveja. Devo ser invejoso. As pessoas que assim falam quase sempre têm três qualidades que não tenho: são simpáticas, espirituosas e bem-humoradas!

 
Itamar BC
Enviado por Itamar BC em 19/12/2020
Reeditado em 23/01/2021
Código do texto: T7139640
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