AS ESTRELAS DE DONA ISAURA


                                   da série:
                       Memórias de minha rua
                   (pequenas crônicas de natal)



17 de dezembro/2013
Noite iluminada varrida de ventos.
Um copo descartável ,aos pinotes, vai e vem num pequeno trecho de minha rua.
Observo-lhe na incerteza de seu rumo e as acácias da rua Espírito Santo embriagam-me sem piedade.
A lua cheia , deslumbrante, é um convite a uivos .Trancafio na jaula do peito o lobo que me arranha a garganta.
[ Que uive,este invasor, pelos labirintos de minhas florestas interiores ]
Um avião noturno cruza o céu envolvido entre constelações. Acompanho aquela luzinha colorida que vai aos poucos se perdendo de meu campo de visão .
O vento assobia pianíssimo sobre as calhas e estrelas evocam-me lembranças.
Vó Isaura com sua alma poética nos ensinara, à mim e meus primos, a doçura de divisar estrelas.
Eram os céus do "Irati velho" dos anos cinquenta,sessenta...Num tempo de lampiões , quando as estrelas supriam nossas carências aproximando-se das soleiras de janelas e portas.
O casarão antigo de vovó,desafiava luares em noites de dezembro e aquela voz branda nos falava de luzes que diferenciavam-se.
- Olhem ali!...Naquela direção.Dizia apontando o dedo para os lados da escolinha.
É a estrela de Belém !
Aquela que conduziu os reis magos à gruta onde nasceu "o menino".
Ela é especial, seu brilho sobrepõe-se às demais, só aparece em dezembro,anunciando o natal e depois recolhe-se até que novo ciclo se cumpra.
Entre os pés de tunas e laranjeiras, acalentávamos sonhos de criança procriados nas considerações místicas de dona Isaura.
O tempo correu , as lembranças ficaram e agora...
Por instantes, percebo-me à procura daquela estrela do tempo espiada da janela no velho casarão.
Sondo além dos quintais da vizinhança e a noite me oferece tão somente perfis de hastes adormecidas entre muros e cercas.
No entanto, lá ! Na direção da antiga olaria ,um pouco acima das hastes ela me acena.
Brilhante, diferente, sobreposta à todas as outras.
É ela ! Reflito com meus botões.
A estrela de Belém,a mesma que nos tocava em dezembros longínquos.
A estrela de vó Isaura. A estrela dos Magos...
Subitamente me dou conta deste saudosismo incorrigível nesta noite de pura magia.
A voz da razão, então, murmura em meus ouvidos:
Calma ! Se não for nada disso,que tenha sido válida a viagem no tempo e que esta estrela de dona Isaura, brilhe natais nos corações de todos os homens .
Em silêncio vislumbro o manto celeste borrifado de estrelas.
As acácias da Espírito Santo, destilam cheiros sobre minhas divagações e o vento prende nas calhas, recados de mundos que desconheço.
Então... Mais um natal impõe-se numa encantadora espera.



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