MONTES CLAROS! MONTES ESCUROS!
MONTES CLAROS! MONTES ESCUROS!
Atamar Fernandes de Souza, engenheiro agrônomo, formado em
Viçosa era muito nosso amigo na década de 60/70. Nas suas férias
passava um período na fazenda Três Barras de sua família, e outro em Calambau.
Ele era uma pessoa muito alegre, comunicava bem com todos e era um grande
gozador.Depois de formado ele foi trabalhar em uma empresa agrícola
em Montes Claros. Para a tristeza de seus familiares e de nós, os seus amigos,
houve um acontecimento que muito nos abalou. Tendo ido dar uma assistência
técnica em uma fazenda de algodão, o avião chocou-se com um penhasco e
ele veio a falecer. Isto foi no dia 08 de janeiro de 1979.
Recebi dele duas lembranças. Uma era um LP de músicas de serestas, do Grupo
de Seresta João Chaves-Ouro Preto e Serenata. O outro foi o livro “Lendas de Montes
Claros. Um excelente livro, li,reli,emprestei e ele tomou Doril, e sumiu!
Um dos relatos era o seguinte:- Na década de 30 em Montes Claros (que ainda era escuro)
foi contratado pelo Prefeito, um alemão para construir uma usina hidroelétrica no município.
O alemão era chamado por todos de Dr. Fritz. Veio, fez o orçamento e começou a obra. Dentro de pouco tempo o ribeirão estava represado próximo a uma cachoeira e a construção já estava adiantada.Chegaram todos os materiais necessários à instalação: dínamo,fios,tubulações, e outros.Para a montagem propriamente dita, o Dr.Fritz contratou um senhor de meia idade e
gostava de uma pinga de vez em quando.Certa vez estando ele em um bar, bebericando umas, quando foi abordado por umas pessoas querendo saber como ia a obra. Adão (este era o seu nome) estava proibido pelo engenheiro de revelar alguma coisa sobre a obra. Insistiram tanto que o Adão acabou revelando:-Olha, a eletricidade é muito bonita, mas fede muito... fede mais que o carboreto lá da Praça. Todos acharam muito estranho...
Acontecia o seguinte:- Quando o engenheiro ia acender a lâmpada para o teste, ele tinha que subir uma escada, como ele era muito gordo o Adão tinha que segura-la. Com o esforço da subida o Fritz, deixava escapar uns “fumegantes”, o que enchia o ambiente com o mau cheiro. No dia seguinte a cidade ficou sabendo sobre a eletricidade fedorenta...
No dia da inauguração, com a praça entupida de gente, com a banda de música, fogos, palanque, etc, a população aguardava o anoitecer para ver a luz brilhar na praça. Alguns precavidos molharam o lenço com álcool para abafar o cheiro da luz...
À medida que a noite chegava a expectativa aumentava. No palco estava o Prefeito, o
Engenheiro e demais autoridades.Na usina estava o Adão esperando o aviso para ligar a chave
e clarear a cidade. Anoiteceu.A um sinal do Fritz soltaram um foguete, o que era o sinal para o Adão ligar a luz. O Adão ouviu. A praça clareou e foi uma algazarra geral.Logo a seguir a luz apagou e ficou alternando o acende, apaga.
Quando acendia a turma do prefeito gritava:- Ah!aaaaaaaaaa!
Quando apagava era vez da oposição: Uh!uuuuuuuuuu!
O Fritz foi até a usina para ver o que estava acontecendo.
Lá chegando viu o seu auxiliar Adão, que tendo ao lado uma garrafa de pinga já pela metade, acionando a chave que enviava a luz para cidade, dizendo:- Montes Claros quando ligava e Montes Escuros quando desligava.
Depois de dar alguns sopapos no Adão e pedir que ele sumisse de sua frente, o engenheiro Fritz ligou a chave, e fez com que os montes ficassem claros por toda a noite, para a alegria
da cidade de Montes Claros.
Calambau, 18 de dezembro de 2020
Murilo Vidigal Carneiro