Estação Ferroviária da Guardinha
Esta crônica foi escrita para relembrar um importante evento da história dos transportes ferroviários da região de São Sebastião do Paraíso, polo cafeeiro do sudoeste mineiro, que foi a inauguração da Estação Ferroviária da Guardinha, ocorrida no dia 17 de setembro de 1910. Desse modo, há 110 anos estava iniciando um novo momento de progresso do município paraisense, com a chegada dos trilhos da Estrada de Ferro São Paulo e Minas. A cidade estava começando a viver a sua Bela Época, perceptível no florescimento econômico, cultural e social.
Estava em fase ascendente a expressiva produção de café de fina qualidade, cujo sabor atraía os compradores mais exigentes do mercado europeu. Ainda não se percebia que, quatro anos depois, teria início a Primeira Guerra Mundial, o que interromperia, por certo tempo, o período de bonança e glamour. Mas enquanto não começava o grande conflito, foi o notável a expansão econômica e social do polo regional paraisense, inclusive com o crescimento do comércio e das instituições culturais, como é o caso da inauguração do Ginásio Paraisense, fundado pelo cônego Aristóteles Aristodemus Benatti, no início de 1907.
Ao consultar imagens digitalizadas de jornais da época, disponíveis na hemeroteca digital da Biblioteca Nacional, é possível visualizar algumas cenas da inauguração da Estação da Guardinha. Estavam presentes centenas de pessoas, moradores de São Sebastião do Paraíso, Serra Azul, Mato Grosso de Batatais (Altinópolis), Ribeirão Preto e Franca. Paulistas e mineiros foram prestigiar, tomados por grande emoção, a chegada dos trilhos que facilitaria a exportação cafeeira da região e estabeleceria novo tempo na comunicação com grandes cidades paulistas. Três bandas de música compareceram para animar aquele grande momento.
O evento foi coberto pelo jornalista Antônio Campos do Amaral, sócio diretor do Jornal do Povo, que pronunciou eloquente discurso destacando o significado do fato para o progresso da região. Cumpre aqui observar que o referido jornal foi o segundo a ser publicado na cidade, lançado em 1903, com um velho prelo manual, movimento à manivela, adquirido pelo deputado José Luiz Campos do Amaral do capitão Manuel Venâncio Vieira da Silva, que exerceu o cargo de vereador e vice-presidente da câmara municipal. O Jornal do Povo, organizado pela firma Silva, Neves & Amaral, subsistiu por diferentes fases, alterando a corrente política a qual funcionava como órgão de divulgação.
Entre Guardinha e São Sebastião do Paraíso eram 18 quilômetros e entre Guardinha e Cobiça, São Paulo, a mesma distância. A princípio, os trens corriam três vezes por semana. Uma memória fotográfica do importante evento está preservada nas páginas da obra do advogado José de Souza Soares, intitulada “Notícia Histórica de São Sebastião do Paraíso”, publicada em 1922. Obra essa escrita no contexto do primeiro centenário da Independência do Brasil, bem como do primeiro centenário de fundação da capela de São Sebastião do Paraíso.
Oito meses depois, em 16 de maio de 1911, foi inaugurada a primeira estação ferroviária de São Sebastião do Paraíso, propriedade da mesma empresa com sede na vizinha cidade paulista de São Simão. Nos 138 quilômetros de distância, o trem parava nas estações de Santa Maria, Tamanduazinho, Palmira, Serra Azul, Serrinha, Águas Virtuosas, Fradinhos, Mangueiros, Mato Grosso de Batatais, Taboca, Cobiça, Guardinha e São Sebastião do Paraíso. Para finalizar, como noticiou recentemente o Jornal do Sudoeste, está sendo iniciada a pavimentação asfáltica entre Paraíso e Guardinha, marcando outro momento de melhoria para o histórico distrito.