UM RATO
Hoje concluí tristemente que me tornei obsoleto.
O jovem altivo e galante já não me pertence.
Descartável, dispensável, rabugento, inservível, velho enferrujado. Chame do que quiser.
Os bordões outrora proferidos com tanto alvoroço e expectativas, já não são mais modernos.
A minha presença física não passa de um trambolho.
Os amigos, os poucos que ainda teimam em resistir ao tempo, são meros trapos humanos.
O alzheimer os consumiu na maior parte das suas lembranças. Principalmente as boas.
Vampiroszumbianos. Dormem de dia, vagueiam à noite.
Depois de velho, tornei-me um super-herói: o homem invisível.
Um herói às avessas. Em vez de soluções, acumulo e acarreto problemas.
Um fardo pesado, nojento e doloroso para a humanidade.
Planejo resistir a esse destino, mas a minha estrutura infame não obedece.
Diante do espelho, não vejo mais motivo para viver.
Reajo: - VOCÊ É UM HOMEM, OU UM RATO?