UM RATO

Hoje concluí tristemente que me tornei obsoleto.

O jovem altivo e galante já não me pertence.

Descartável, dispensável, rabugento, inservível, velho enferrujado. Chame do que quiser.

Os bordões outrora proferidos com tanto alvoroço e expectativas, já não são mais modernos.

A minha presença física não passa de um trambolho.

Os amigos, os poucos que ainda teimam em resistir ao tempo, são meros trapos humanos.

O alzheimer os consumiu na maior parte das suas lembranças. Principalmente as boas.

Vampiroszumbianos. Dormem de dia, vagueiam à noite.

Depois de velho, tornei-me um super-herói: o homem invisível.

Um herói às avessas. Em vez de soluções, acumulo e acarreto problemas.

Um fardo pesado, nojento e doloroso para a humanidade.

Planejo resistir a esse destino, mas a minha estrutura infame não obedece.

Diante do espelho, não vejo mais motivo para viver.

Reajo: - VOCÊ É UM HOMEM, OU UM RATO?

REMI
Enviado por REMI em 14/12/2020
Reeditado em 03/05/2022
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