"Chegou devagarinho, contagiou geral (...)".
Ouvi sem querer, pela inércia do momento de me ver ali, na sala de casa, hipnotizado. Sorri, ri e cheguei a dar gargalhadas, tudo sem compromisso, o gozo pelo gozo. Era um grupo de quatro ou cinco criaturas dançando a plenos braços, pernas, cabeças e quadris. Gargalhei alto, já esparramado no sofá. Minha mãe, que me via e ouvia da cozinha, perguntou: "O que é isso, menino?". "Ora", respondi, "a senhora não está vendo que é uma palhaçada, mãe? Que eu saiba, a gente ri desse tipo de coisa". Não. Minha mãe não sabia ou, pelo menos, parecia ter esquecido. Eu já fui testemunha desse comportamento protagonizado por vários membros da minha família, velhos e jovens: assistem às bobagens da tevê com a mesma seriedade com que assistiriam a um filme do gênero suspense ou terror. Essa seriedade, na verdade, é passividade; é como se os sentidos do intelecto fossem suspensos e o espectador, que deveria buscar inteligir o conteúdo em exposição, abrisse mão disso e somente se contentasse em ver e ouvir, e, quando muito, a esboçar um tímido e ligeiro sorriso à Mona Lisa. Talvez não seja verdade, talvez seja mesmo só uma impressão equivocada, mas as pessoas não expressam mais suas emoções quando são estimuladas. É feio rir alto durante um filme de comédia, é feio chorar durante uma peça de tragédia, é feio se agarrar nos braços da poltrona durante uma sessão de terror. Os melhores espectadores são aqueles que não demonstram reações. Nesse Domingo, fiquei em casa só para constatar que o projeto do "Admirável Mundo Novo" já avançou porta adentro de casa. Eu devia ter ido à Missa.