É APENAS MAIS UM DIA.

O céu estava enegrecido, o sol se escondeu, nuvens apressadas se sobrepondo umas sobre as outras, um repentino clarão ao longe, anúncio de uma forte tempestade que estava chegando, no bar do Júlio, dois amigos conversavam.

— Complexo sistema que nos massacra.

— Não há muito o que fazer Jorge, eles dominam tudo mesmo, esse vírus, por exemplo, foi coisa deles.

— Sei como é, eles querem matar o povo.

— Somos apenas ovelhas inocentes na faca do açougueiro, é o que estou te dizendo.

— A verdade é que somos gados para eles.

— A massa comportando-se exatamente como programado, veja Jorge, instaura-se o caos para que o povo, amedrontado, façam o que eles desejam.

Na (avenida) carros apressados, ônibus, buzina, vendedor ambulante, alguém de bicicleta passa na calçada em frente ao bar, acena, o dono responde com outro aceno, era seu Elias chegando do trabalho.

— Isso ocorre em todos os níveis sociais. Continuava a conversa entre os amigos.

— Exatamente. A sociedade como um todo está sendo trabalhada, manipulada… É amigo, os bons tempos já não existem.

— Na minha concepção, posso estar errado Luiz, mas, no meu modo de pensar nunca de fato houve bons tempos. Na época de nossos pais e avós eles diziam as mesmas coisas… Para eles, aquele momento específico era ruim e os anteriores melhores… Sei lá… Penso que está tudo ruim o tempo todo, desde que Adão pecou…

Na avenida passa uma carreata de determinado candidato a prefeito, buzinas, música, promessa, política…

— Você tem cada uma… “desde que Adão pecou”… Pudera mesmo. Continuaram indiferentes ao que se passava do lado de fora.

— Vou indo embora, antes que caia essa chuva… Tomara que caia mesmo, que molhe esse bando de político safado.

— Espere rapaz, venha, vamos tomar a saideira, depois iremos juntos.

— Faz meia hora que estamos nessa de saideira e nunca saímos.

— Agora é sério, vamos sair mesmo… Ô Júlio… Marca na minha conta, por favor, amanhã acerto.

— Vai sair agora? Homem… 'Tu se lasca'… Vai tomar chuva.

— Que nada rapaz, perdura aí, amanhã volto. Não vai chover, a semana toda foi assim, só ameaçava.

Saíram os amigos ignorando as advertências de Júlio.

No céu, nuvens pesadas, de repente, tudo ficou escuro, raios e trovões cortando de um lado a outro. Jorge e Luiz saíram ignorando as advertências de Júlio, estava sem guarda-chuva, raios cortavam o céu enegrecido. Poucos minutos depois, desabou o temporal.

— O fim de ano começou daquele jeito. Resmungou Júlio.

— Falando sozinho seu Júlio? É o (corona) que te enlouqueceu.

— Vá…

Raios, trovões, avenidas alagadas, carros arrastados como se fossem de brinquedos. É apenas mais um dia comum em São Paulo.

Tiago Macedo Pena
Enviado por Tiago Macedo Pena em 13/12/2020
Reeditado em 13/12/2020
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