Drogas de Elite

 

 

            Grave é o estado de nossa juventude. Estamos em uma espécie de coma, ou de vácuo, com contornos que se aproximam de um mundo surreal. Não se trata do delírio de um cronista, contumaz na ficção, amparamos nosso verbo em pesquisa da FGV sobre o “Estado da Juventude – Drogas, prisões e Acidentes (http://www3.fgv.br/ibrecps/EDJ/index.htm)”.

 

            Chega-se ao veredicto: a juventude vai mal. Constata-se que na classe mais alta; abastada por que seus valores se corromperam, iludida em palácios de ouro, trancafiados em cercas elétricas e isolados da realidade social; sedimentou-se no orçamento básico a compra do caminho fácil. Na falta de rumo, situa-se a camada que deveria ser casta nobre, em usuário e consumidor principal das drogas terceiro-mundistas. O que produz a Bolívia e similares, em seus sítios distantes, vem parar aqui, nos condomínios fechados em si mesmos.

 

            Sustentamos a violência, subindo os morros, em busca de um pó branco, que transforma jovens em zumbis, fantoches desmantelados. A violência cresce, segundo comprovou a pesquisa, nas cercanias das residências dos consumidores preferenciais, “filhinhos de papai”, masculinos, entre 10 e 29 anos, tendo a pele branca como a cocaína que seus narizes cheiram. Quem quebrou o vidro do seu carro e levou o som, dorme no apartamento ao lado.

 

            A elite do capital vai mal, e tende a ficar pior. Pais em busca de ofertar conforto, por demais exagerado, pouco conversam com o produto de sua ansiedade insana: “educar é obrigação da escola”, declaram em tom de omissão. A escola não consegue. Pululam nos recreios, nos banheiros, nos cantos soturnos, rodas de vorazes usurpadores de sua própria alma. A tábua de salvação é uma ilusão de felicidade que passa ao largo.

 

            Morrem a cada dia as esperanças de um futuro melhor. Quando se abre os olhos, ofuscados pelas lentes “Ray-Ban”, se perguntam: de quem é a culpa? Do luxo, do conforto, da escola, da ausência? Pais distantes em carros equipados. Filhos criados, mimados, nos carpetes e pisos de mármore.

 

            Na faculdade encontram a liberdade, falsa, e lutam apenas por maiores mesadas, fonte de um vício interminável. Terminam sendo os escândalos abafados, comprados, cientes da impunidade garantida pelo escudo financeiro.

 

            Onde os jovens que deveriam lutar por justiça social, por uma limpeza nos quadros políticos, pela construção de uma nação justa, digna e igualitária? Suba o morro e os encontrará por lá, junto aos deserdados, colecionando pacotinhos escuros, unindo o útil ao agradável. A renda vem sendo assim distribuída: do rico, via tráfico, ao pobre; e todos ficam felizes! E durma-se, com muito Prozac, sob o ruído do ar-condicionado, que esfria e congela nossas consciências. Não entendeu? Nem eu...