A AUTOCONFIANÇA E SEUS RISCOS

Acho que no desempenho da minha função pública fui daqueles que se costumam chamar de Caxias. Nunca deixei de cumpri-la fielmente, procurei ser zeloso com tudo.

Tratar com respeito todas as pessoas envolvidas nas situações, foi uma prática consciente minha.

Era uma função de responsabilidade, de momentos tensos e solitários, em muitos casos vulnerável à má-fé alheia. Era uma função também muito interessante e prazerosa.

Com a experiência pelos inúmeros acontecimentos pertinentes a ela, muitas vezes caímos nas armadilhas da autoconfiança e desatenção.

Certa vez em uma fazenda cumprindo um mandado de interdição, citei e intimei da audiência o interditando, observando que ele apresentava naquele momento, todos os indícios de compreensão e de sanidade mental, todas as condições previstas para uma citação válida, embora na petição da parte requerente houvesse uma argumentação sólida sobre a precária saúde mental dele.

O rapaz estava trabalhando no estábulo. Falei com ele, expliquei tudo e ele entendeu, assinou, foi de uma cordialidade impressionante. Parecia que eu era pra ele um grande amigo.

Passado algum tempo, meses talvez, voltei novamente para uma nova intimação. Na minha lembrança estava aquele comportamento antigo dele, sem nenhuma preocupação ou prevenção, fui até a casinha da colônia onde ele e a família moravam.

Bati palmas já perto da porta de entrada, saiu um Senhor e eu perguntei pelo rapaz. Não houve tempo para qualquer resposta daquele Sr. que era pai do moço. O rapaz saiu correndo de dentro da casa em minha direção e já me desferiu um soco no rosto, tive tempo somente de tentar me desviar; desvio que não foi suficiente, a unha do polegar dele acertou um lado do meu queixo, causando uma lesão um pouco profunda mas felizmente não grave. Os familiares dele correram e o seguraram, pois ele queria continuar me agredindo.

Foi mais um caso somado na minha experiência profissional, que certamente valeu, mas não me isentou de outros imprevistos.

JV do Lago
Enviado por JV do Lago em 11/12/2020
Código do texto: T7133209
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