Áudio

*pi*

-Oi Giulia, eu queria conversar contigo sobre um negócio, porque assim... na real eu não sei bem como te falo isso sem parecer uma coisa escrota, mas acho que preciso falar mesmo que te soe meio merda. Tu sabe que a gente teve aquele rolê lá já faz alguns anos e você decidiu sumir, depois disso eu namorei, daí terminei não muito tempo depois, fui atrás de você meio que do nada e acho que você ficou incomodada (com razão). Daí você começou a namorar e ficou namorando aquele guri por anos e eu queria ter tido um papo de verdade com você. Aí não sei se você tava dando um tempo ou se tava brigada com o guri lá, ou se talvez tivesse de boa mas tivesse matutando isso tudo, mas eu fiquei me perguntando se havia alguma intenção ao falar justamente comigo sobre duvidas que tu tinha em relação a tua sexualidade. No aniversário do Rafa, inicio do ano passado, me senti super desconfortável indo te dar oi, ainda mais que você tava com seu grupinho mais isolada e eu tava ali com meu grupinho. Aí a gente não falou a noite toda e tu foi embora brigando com teu ex (na época atual) sem nem avisar nem dar tchau. Pra mim e pro aniversariante. Enfim, daí eu fiquei sabendo que voce tinha terminado inicio desse ano. Você até veio conversar comigo me pedindo desculpas por ter me evitado lá atras quando a gente teve aquele role lá. Eu falei que tava de boa e é acho que aí entra o que eu queria te falar. Quando você veio conversar eu nem tinha pensado direito naquilo e percebi que a tua intenção ao vir falar era tirar esse peso de ti de algum modo com o meu perdão. Eu boto muita fé que tu era imatura e sabe que porque eu gostava de ti também, me fez muito mal tu sumir do nada porque ficou desesperada que estava gostando de verdade de uma mulher pela primeira vez. Então, eu não to de boa. Não que eu esteja brava contigo ou com raiva ou nada do tipo, acontece que essa semana eu tava organizando algumas fotos que subiram automaticamente na nuvem lá em 2015/2016 e achei umas fotos nossas de um dia que eu fui dormir na sua casa. O estômago virou do avesso e parece que eu fui transportada sabe. Lembrei daquele dia que eu passei mal na sua casa e fui pra sacada, já que na minha cabeça de bebada fazia muito mais sentido eu vomitar no teu pátio do que no banheiro haha. Lembro que você cuidou de mim mesmo eu passando mal, mesmo vomitando na pia do seu banheiro. Você colocou meu cabelo pra tras, lavou meu rosto. Me segurou enquanto eu passava mal e beijou meu rosto. Eu te olhei e perguntei confusa “você me beijou... assim?” e você riu com meu espanto. Eu achei isso tão lindo, um carinho tão puro. Tu deve saber o quanto isso me marcou. Eu não sei se foi naquele dia também mas estávamos no sofá e começamos a nos pegar esquecendo completamente que a Clara tava lá segurando vela. Desculpa não me lembrar disso, como você sabe, eu estava bem bêbada, inclusive acredito que a gente não teria se dado uns pegas intensos daquele jeito com ela no sofá se estivéssemos com nossa capacidade de julgamento plena... enfim, eu to viajando aqui, dei uma devaneada. O que eu quero dizer é que eu sei que tu ta namorando agora com uma mulher, finalmente assumida pra todo mundo e, sinceramente, dando a ela o que eu gostaria que tu tivesse me dado em algum momento. E a Clara ainda diz que shippa a gente juntas, apesar de vocês não se falarem mais. Não estava planejando falar essa parte, mas agora já falei. Enfim, acho que se a gente considerar não tem uma hora certa pra te falar isso porque uma ou outra sempre ta na hora errada. Eu posso ter lido alem das suas intenções ao você ter se aberto comigo sobre aqueles rolês da tua sexualidade no final do teu namoro, ou você ter puxado papo comigo em alguns momentos, mas eu acho que alguma parte sua também pode se perguntar o que eu venho me perguntado desde que achei aquelas fotos que não lembrava que tinha. Eu queria poder ter continuado propriamente a conversa quando tu veio falar sobre tuas duvidas que fazem parte da tua identidade, eu queria ter me reaproximado. Quanto mais eu me relaciono com outras pessoas, mais eu percebo que eu tenho muito a ver contigo e que não deveria ter deixado que aquele dia que voce saiu sem tchau me incomodar tanto e evitar dar corda pra ti. E se a gente tivesse tido uma chance, uma chance de verdade pra ter sido algo, o que a gente teria sido? É isso. Eu queria te falar que caso isso acabe algum dia, depois de você passar pelo sofrimento de ter acabado, quando já sentir que quer se relacionar com outras pessoas (seja no nível que for), eu quero te levar pra sair. Eu quero ter uma noite novamente assistindo clipes e rindo. Eu quero saber como tu tá agora, o que tu mudou nesses quase cinco anos, que coisas tu ainda acredita, que coisas tu deixou de acreditar, que histórias tu tens pra me contar que te marcaram pro bem ou pro mal. Eu sei o quão pretensioso o que eu to falando é e o quanto tu pode se incomodar por receber esse áudio a essa altura do teu relacionamento. É que esses anos me provaram não tem hora certa e parece que nunca vai ter e se tiver uma proxima oportunidade eu não quero me dar ao luxo de não saber e deixar passar... mas se de algum modo o que eu te falei mexeu contigo tu sabe qual será a próxima pessoa você pode chamar pra um encontro. Estarei aqui.

*pi*

Larguei o celular na cama. Ela não ta on.

E se ela me ignorar? Peguei o celular de novo, desbloqueei a tela. Eita caralho, agora ela ficou on.

>Deseja apagar a mensagem?> Apagar para todos

Ela ta digitando...

- E aí, boa noite. O que você tinha me mandado que apagou?

- Marilia (10/12/2020)

Marília Dagostin
Enviado por Marília Dagostin em 11/12/2020
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