MEMENTO MORI
Com que frequência e em quais circunstâncias você pensa na morte? Hoje, depois de uma merecida siesta, saltei da cama pensando em café. Estranho. Um pensamento intruso assaltou a minha consciência: "E se essa xícara de café for a última da minha vida?". Nos últimos dias, passei a gostar de café fraco e melado. Essa mudança me surpreendeu, porque, desde que aprendi a manejar o coador de pano, a dosar as quantidades de açúcar e de pó, a perceber a temperatura ideal da água e, o mais importante, a despejar, em movimentos circulares e gentis -- quase sensuais --, a água por sobre o pó no coador, sempre gostei de café forte e com pouca açúcar. Depois, não interessa quando exatamente, descobri que tudo isso era bobagem, afetação de masculinidade. Café bom é café doce, do tipo que dá gastura nos dentes. Mais açúcar na minha xícara derradeira! Ah, sim, já ia me esquecendo: o açúcar tem que ser refinado, pois ele se dissolve mais rapidamente, não fica decantado no fundo da xícara depois que você o despeja. É, portanto, mais prático. Agora, se é mais saudável, não importa: é a droga da minha última xícara, que diferença faz?