UNS CONSTROEM OUTROS DERRUBAM
Nunca fui um desses de ficar muito ligado à religião. Sou frequentador, tenho a minha fé, reconheço o trabalho importante que muita gente faz, acho que eu poderia até fazer um algo a mais nesse sentido.
Não sou um crítico que acha que quem frequenta uma igreja, que faça parte de uma religião, necessariamente tenha que ser melhor que os outros que não seguem nenhuma fé.
Penso que neste mundo estamos todos no mesmo barco, todos com problemas para resolver e a vida pra cuidar.
Fosse eu um radical que costuma julgar uns pelos outros, não entraria em uma igreja desde os meus quatorze anos, quando fui humilhado por um padre.
Menino, inocente de tudo, com a timidez do tamanho de um bonde, nascido em outro lugar com costumes diferentes, numa família em grande penúria financeira, entrei como ajudante aprendiz naquela oficina.
Logo nos primeiros dias de trabalho, um colega, desses que aprontavam com os outros para se divertir, aproveitou a presença de um padre que era cliente daquela oficina, disse a ele na frente de todos que eu estava falando coisas indevidas. O padre não pensou, ali mesmo publicamente me rezou um sermão humilhante. Passei um tempão com raiva de religião, mas frequentava a igreja.
Muitos anos depois, um amigo me chamou para fazer parte do conselho administrativo da paróquia que frequentávamos, fui mais como observador participar de uma reunião do conselho, eu nada entendia daquilo.
Num dado momento, surgiu um assunto que não tinha a ver com a pauta da reunião, o padre, que estava presente, resolveu questionar uma colaboradora sobre a escolha das pessoas para a missa do lava-pés. Não entendi o motivo, mas ele a destratou covardemente na frente de todos, a humilhou cruelmente.
Saí de lá e nunca mais quis participar de nada naquela paróquia.
Para compensar, conheci padres muito legais e até fui ajudado por um deles num momento de minha precisão.
Fazer julgamentos é fácil, fazer justiça nem todos conseguem.