Pétalas na Paulista

Um velho amigo meu sempre diz que andar pelo centro de São Paulo é sair da rotina, mesmo que caminhe pelas ruas, tudo é sempre diferente: as pessoas, os carros, as cores.

Esta é uma cidade que não para, e vez ou outra me deparo com algum acontecimento que me encante.

Assim aconteceu em um dia comum, quando voltava do trabalho. Vi, na Avenida Paulista, coração de São Paulo, um humilde senhor, negro, de aparência simpática, próximo à sua mesa improvisada cheia de botões de rosas, com uma plaquinha em letras tortas escrita: "Rosas 2,00". As rosas eram tão bonitas que me prenderam a atenção. Comecei a pensar, quem tem a felicidade de receber uma rosa nos dias de hoje? Passei a observar todos que ali paravam e assim me perguntava quem iriam contemplar com aquela flor.

O jovem levaria para sua mãe, que cuidou da casa o dia inteiro e mesmo assim se apressava todos os dias para o jantar ficar pronto na hora em que ele chegasse.

O homem sério de terno e gravata que comprou duas rosas pediu para que o senhor as embrulhasse separadamente. Uma levaria para uma amante, que o esperava em algum lugar longe do trabalho, para não levantar suspeitas do caso que havia entre eles, e a outra rosa, para sua esposa que o aguardava em casa, frustrada por mais um dia em que o marido teria que ficar até mais tarde sem serviço.

Algum tempo depois chegou um rapaz segurando uma menininha pela mão. Ele levaria para sua companheira que se desdobrava entre as tarefas de ser mãe, dona de casa, esposa e professora.

Uma moça também comprou uma rosa, certamente queria completar o presente que pude ver dentro da sacola em sua mão, presente que seria entregue à sua namorada, pois estavam comemorando o aniversário de namoro.

Teve também um casal de jovens que andaram abraçados por toda a avenida e só se soltaram na hora do rapaz entregar a rosa à sua namorada, que retribuiu com um beijo rápido e um sorriso largo. Aliás, esta foi a única rosa que vi sendo entregue, mas aposto que a alegria no rosto da jovem foi a mesma de todos que também a ganharam.

Eu também tive que pegar uma rosa, mas essa era para mim. Quis ter uma lembrança daqueles minutos que passei observando mais uma bela cena que encontrei em uma das ruas dessa cidade que me surpreende a cada passo que dou.