FESTA DA CONCEIÇÃO
Em cada 08 de dezembro, na paróquia do Barro, fazíamos a festa em homenagem à Virgem em cuja invocação a majestosa igreja fora erguida.
Claro que os preparativos começavam bem antes da data festiva. A preparação das crianças que fariam a primeira comunhão ficava a cargo de Madrinha Ceça.
Não resta dúvida de que ela tinha nome e sobrenome, mas duvido que algum paroquiano soubesse, porque todos, independentemente da faixa etária ou da imposição do sacramento, quando se referiam a ela, chamavam-na de Madrinha Ceça. E ela, como boa madrinha de todos, dava a melhor das atenções para qualquer um.
A missa solene se realizava as nove horas da manhã, era oficiada pelo Pe. Hermano Moiij, SF, pároco do Barro, geralmente concelebrada com um ou mais padres, detentores ou não de títulos honoríficos.
Um desses convidados ficava encarregado da homilia e todos participavam da distribuição das hóstias na comunhão dos fiéis, pois naquele tempo essa atribuição era exclusiva dos sacerdotes.
Os cânticos para a festa da padroeira e para o natal duas semanas depois eram ensaiados sob a regência da Irmã Cecília OSF, uma das franciscanas que lecionavam no Colégio da Imaculada Conceição.
Getúlio, Sr. Marinho e eu éramos as vozes masculinas do coro cuja ala feminina, se não estou enganado, contava com doze pessoas entre jovens e senhoras já de idade avançada, mas que possuíam vozes belíssimas. Soprano em sua maioria.
Uma das moças, Lourdinha Pereira, era a solista no cântico da Ave Maria, cuja suavidade da voz soprano lírico tinha o dom de emocionar e de levar às lágrimas pessoas da comunidade, tal a delicadeza e maestria de sua interpretação das músicas compostas por (Charles) Gounod ou (Franz) Schubert.
O altar e o andor da procissão eram preparados com todo esmero pelos paroquianos mais dedicados com muitas rosas e folhagens para melhor brilhantismo da festa onde não faltavam os detestáveis foguetões, antes, durante e depois da procissão cuja saída era anunciada pelos sinos nos três últimos quartos de hora antes do início e que permaneciam repicando até que o andor estivesse outra vez dentro da igreja.
A procissão percorria grande parte das ruas centrais do bairro, arrastando a multidão de fiéis que, ao final assistiam a missa que encerrava as atividades do dia festivo e iam se distrair na festinha de rua, armada no entorno da igreja, prejudicando o trânsito nas ruas, até então sem calçamento.
Hoje, cinquenta e poucos anos depois desses acontecimentos, de ter deixado para trás o bairro distante na capital Pernambucana em que vivi e de morar há mais de três mil quilômetros de distância, ainda lembro daquelas pessoas das famílias Marinho, Cardoso, Pereira, Araújo, Resende, Pinto, Santos, Roma, Ferreira, Santana, Beirão, Bastos, Marques, Silva, Alves, Gonçalves, Barreto, Lemos, Almeida, Lins, Valença, Brito, Menelau... com quem dividi momentos gloriosos das nossas vidas.