Passado o dia

Normalmente, não sou de frequentar música ao vivo em bar. Porém, como hoje é sexta-feira e eu tive um dia estressante no trabalho, decidi me dar o luxo. Sento-me em uma cadeira. O garçom rapidamente me avista e vem ao meu encontro. Peço uma cerveja. É sempre uma cerveja.

Enquanto espero a cerveja, observo o artista no palco. Observo mais os seus dedos deslizando nas cordas do violão do que na música que ele está cantando. Começo a lembrar-me do ensino médio, dos garotos que levavam violão para escola – uma tentativa esdruxula de conquistar garotas. Lembro-me também dos outros tipos de garotos, os que levavam para cantar em rodas de cristãos. Nunca entendi. As pessoas realmente curtem isso? Já não bastava na Igreja? Principalmente adolescentes… De qualquer maneira, o cerne da minha lembrança não gira em torno desses detalhes inúteis que acabei de falar. Penso na questão de talento, aprendizado de habilidades, etc. Eu realmente deveria ter me dedicado a aprender alguma coisa nos dias em que eu era livre.

Qualquer coisa, não precisava ter sido necessariamente violão. Eu poderia estar agora ganhando uma graninha extra – ou me divertindo, talvez que até se tornando um especialista em hobby. Quando digo qualquer coisa, penso até em habilidades com planilha de excel. Quer dizer, já imaginou um especialista em planilha de excel? Deus, que patético. Se bem que é um patético que eu gostaria.

Minha cerveja chegou. Vejo suaves respingos deslizando pela brilhosa lata da bebida, como se fossem lágrimas de um velho lamentando as ações não realizadas, os amores não vividos, as habilidades não aprendidas, etc. Penso que este velho poderia muito bem ser eu. Penso também que quando novo eu diria que não é tarde demais para aprender algo novo. Apesar disso, meu eu atual me diz apenas uma coisa: Que não é tarde demais para degustar esta cerveja em minhas mãos.