MORADOR DE RUA

O MORADOR DE RUA.

Da sacada do 3º andar do prédio onde eu moro, dá uma linda vista para a praça São Cristóvão e eu sempre gosto de toda tarde ficar ali olhando o movimento da rua, como o da praça: pessoas que ocupam seus bancos para bate-papos ou curtirem a solidão como foi o caso do personagem desta Crônica que ora apresento:

- Durante certo tempo. Da aludida sacada eu observava um senhor que ficava toda tarde sentado, sempre sozinho ocupando um mesmo banco da praça. Ficava ali, quieto, olhando, não fumava, não bebia nem comia nada.

Geralmente os demais bancos eram ocupados por duas ou três pessoas, mas aquele ao lado de uma moita de hibisco muito viçosa e sempre florida era ocupado por aquela única pessoa de cabelos sujos, despenteados e crescidos, Barba por fazer há muitos dias, roupas sujas, calçado com sandálias mostrando os artelhos com unhas crescidas, sujas e afiladas e cheirando a falta de banho. Ao seu lado estava sempre um saco preto de plástico com um cobertor certamente e algumas roupas.

Aquele senhor era sem sombra de dúvidas, um morador de Rua!

Certa tarde, tocado por qualquer força tomei uma decisão, fui à cozinha, passei um café bem forte, assei um farto sanduíche e de posse do então lanche, me dirigi a ele oferecendo-o: eu trouxe um cafezinho quente para o senhor. Aceita?

Ele sorrindo e apontando a vaga que sobrava no banco, me disse com lágrimas nos olhos: sim, eu aceito com muita gratidão, mas ficarei mais feliz se o senhor se assentar aqui e conversar um pouco comigo, pois o que preciso mesmo é de conversar com alguém, o que não faço há tempos.

A minha emoção foi tanta, que coloquei ali no banco o bule de café e o prato com o lanhe, peguei em suas mãos que senti sujas e ressecadas, puxei-o para mim e lhe dei um forte abraço ignorando seu estado. Sentei-me ao seu lado e conversamos durante mais de uma hora e confesso: com toda sinceridade tive uma senhora lição de vida e sempre, desde então não perco oportunidade de “um dedo de prosa” com um morador de rua.

Se eu fosse prefeito faria na cidade que eu administrasse banheiros públicos em todas as praças a serem cuidados por servidores público, para dar mais condição de higiene e mais um pouco de dignidade para moradores de rua.