Incêndio da Matriz
O dia 31 de agosto de 1879 ficou na história de São Sebastião do Paraíso, polo cafeeiro do Sudoeste Mineiro, devido ao grande incêndio que destruiu a Matriz, sede da paróquia consagrada ao padroeiro da cidade. Não havia ainda completado uma década que o antigo distrito fora elevado à categoria de sede de município e a paróquia, criada por lei provincial de 18 de maio de 1855, estava completando o seu 24º aniversário. O episódio causou profunda tristeza e consternação na população. Foi agravado pelo fato de o fogo ter se alastrado por todo o assoalho de madeira, chegando aos altares, de onde teria atingido toda a parte estrutural do telhado.
A paróquia estava sob administração do padre Joaquim Ferreira Telles, que nos anos anteriores tinha exercido o sacerdócio na vizinha cidade paulista de Batatais. Proprietário da fazenda Córrego Fundo e de diversos escravos e de imóveis na cidade, após celebrar a missa, antes do sol raiar, tinha o hábito de passar o dia no comando dos serviços em suas terras cafeeiras. Consta no livro de José de Souza Soares, de 1945, que o padre Telles recebeu distinção conferida pelo Bispado de São Paulo, criando uma comarca eclesiástica com sede na paróquia de São Sebastião do Paraíso, em 15 de janeiro de 1873.
Em decorrência da criação dessa comarca, ficou o referido padre encarregado de administrar o cumprimento dos preceitos canônicos nos limites da sede da Matriz e das paróquias de Jacuí, São Francisco de Monte Santo e os curados de São Pedro e Santa Bárbara (Guaranésia). Em meados da década de 1880, antes do fim do regime de escravidão, foi publicado em jornais do Rio de Janeiro, que o padre Telles havia registrado em seu testamento a liberdade para os seus escravos.
A matriz incendiada foi construída um pouco antes de 1853, quando a antiga capela foi reconhecida como templo católico oficial vinculado ao Bispado de São Paulo. Foi inaugurada pelo padre Lúcio Fernandes Lima, nomeado primeiro vigário da capela, assim como primeiro sacerdote a administrar a paróquia. Com base nas anotações do escritor acima mencionado, a memória paraisense preservou duas versões a respeito da provável causa do incêndio.
Uma senhora chamada Ricardina, ao final da missa rezada antes do sol raiar, teria esquecido uma vela acesa próximo ao altar principal, colocada sobre o assoalho. Outra versão atribui o fato ao esquecimento do padre, auxiliado pelo jovem sacristão, de apelido Cadete, filho de um dos seus escravos. No dia do incêndio foi acessa uma vela maior e, ao final da missa, o jovem auxiliar atendeu às ordens do padre para buscar, rapidamente, a charrete afim de seguissem para a fazenda. O atencioso jovem teria lembrado ao padre que a grande vela estava acessa e que a mesma deveria ser apagada. Mas, com a pressa e com a cabeça nos serviços da fazenda, o sacerdote não teria apagado a vela. Certo tempo depois, a igreja foi tomada pelas chamas, alcançando os altares de madeira, assoalho e telhado.
Moradores do entorno da praça, ao perceberem a existência de fumaça saindo da Igreja, conseguiram entrar e retirar imagens, quadros e outros objetos sagrados, os quais foram levados para a Igreja de Nossa Senhora do Rosário, distante cerca de 300 metros da Matriz. Com a devida autorização do bispo, a sede da paróquia ficou então instalada, provisoriamente, na referida igreja consagrada à padroeira dos escravos, dos congadeiros e moçambiqueiros. A construção da nova Matriz teve início somente dois anos depois do terrível incêndio e levou alguns anos para ser finalizada.
Ficou na memória paraisense que o capitão Antônio Alves de Figueiredo, pai do comendador João Alves de Figueiredo, presidiu a comissão encarregada de levantar fundos para construir a nova Matriz, edificada sob a administração do mestre Manuel Dutra da Silva. A nova matriz não foi construída exatamente no mesmo local do templo incendiado, pois este ficava um pouco mais distante da rua Pimenta de Pádua. Em outros termos, a construção da nova igreja (segunda Matriz) não preservou a primeira configuração urbanística do centro, idealizada com estética e simetria pelos primeiros administradores do poder público municipal.