Ao telefone

Eis que, no meio da conversa entre amigos, a doença veio à tona.

- Inclusive minha tia Elza testou positivo.

- Idade dela?

- Não é muito nova não, vai fazer 97.

- Ih!... Está muito grave?

- Vivendo como pode.

- Hospitalizada?

- Não! Em casa. Triste, por ter de ficar longe dos outros.

- Não teve sintomas, né?

- Nada. Teve um febrão e muita dor no corpo. Mas espantou depressa o dragão.

- Mas ela...? Assim...ela anda?

- Claro. Conversa, recebe visitas, quer dizer, recebia.

- Certamente, sem comorbidades?

- Não, come de tudo.

- Não é isso que digo. Ela não tem doenças? Tem?

- Toma lá seus remedinhos pra pressão alta e quando a coisa aperta tem daquelas bombinhas pra asma.

- Fico imaginando ela. Vejo uma doninha assim conversada e magrinha.

- Acertou em parte. Ela tá é bem gordinha mesmo!

- Nossa! E assim, de covid e bem!... Não deve ter vícios, né?

- Tia Elza? Ainda pita...

- Pita?

- Mas não passa de cinco cigarrinhos por dia, sem falar na pinguinha.

- Pinguinha?

- É. Ela costuma roubar uns tragos da garrafa que meu primo deixa bem escondida.

- Puxa! Mas que desmoralização!

- Desmoralização?

- Pra esse vírus.