A morte do conhecimento
A julgar pelo menosprezo às provas de física do Lourival, oníricos momentos vividos sob o capuz adolescente de um moletom, eu progredi. Mas me tornei um “senhor” Ícaro, que, até este exato momento em que tecla, tenta angustiadamente sonhar que a quentura do Sol não será tanta para derreter a cera!
Os primeiros livros persistidos até o fim; as pilhas e mais pilhas de papelada mofando em duas estantes; as horas sem-fim de pé diante da Xeróx da Marilu, na Papelite da XV; organizações mil: espiraladas, grampeadas, coladas, empilhadas, rotuladas, classificadas, reencadernadas, reclassificadas... E agora os terabytes de uma fila de leitura que me exigiria mais algumas vidas.
Morgan e Deese! Sim, foram eles os culpados pelo meu Sonho de Ícaro.
Ou não...
Os morfemas e semantemas, as mínimas unidades: imputei-me a meramente impossível tarefa de tê-los todos na memória; todos os da história; a arte do resumo certamente seria milagrosa; a história toda, os pensamentos todos, os conceitos todos: todos se repetiriam, pois seriam meros encaixes diferentes das mesmas pecinhas de Lego. Num momento um prefixo, noutro uma raiz, aqui periférico, lá central. Seriam todos compactados, reduzidos a sua essência.
Por quê?
Dominação?
Superação de algum complexo de inferioridade?
Genialidade?
Sei lá, talvez uma miscigenação socialmente construída.
Mas Ícaro arde. Malditas abelhas!
E as vitrines de sebos são traficantes a me mostrar o cheiro do vício.
E minha poupança da Caixa Econômica fede a geladeira de pobre em fim de mês.
Que bom que Ícaro arde!
Ícaro tem de morrer!
Mas se sobreviver, se conseguir nadar até alguma ilha ou, quem sabe, ser levado pela correnteza até a costa de algum continente, terá de ter aprendido a lição. Quem sabe ele deixa um pouco a vida o levar... Um dia de cada vez, como nos Alcoólicos Anônimos. Sua epistemologia precisa cair ao chão, cheirar mais terra e gente. Mas, sobretudo, pensar em voos menores. Voos que recendam à finitude;, à dinâmica que até as profundezas do oceano transforma, em seu devir, em elevados picos; à parcialidade, inevitável destruidora de universais; à benfazeja incapacidade de retenção da memória humana.
Sim, de grão em grão a galinha encherá algum papo bem menor do que um oceano!
Morgan e Deese! Sim, foram eles os culpados pelo meu Sonho de Ícaro.
Ou não...
Os morfemas e semantemas, as mínimas unidades: imputei-me a meramente impossível tarefa de tê-los todos na memória; todos os da história; a arte do resumo certamente seria milagrosa; a história toda, os pensamentos todos, os conceitos todos: todos se repetiriam, pois seriam meros encaixes diferentes das mesmas pecinhas de Lego. Num momento um prefixo, noutro uma raiz, aqui periférico, lá central. Seriam todos compactados, reduzidos a sua essência.
Por quê?
Dominação?
Superação de algum complexo de inferioridade?
Genialidade?
Sei lá, talvez uma miscigenação socialmente construída.
Mas Ícaro arde. Malditas abelhas!
E as vitrines de sebos são traficantes a me mostrar o cheiro do vício.
E minha poupança da Caixa Econômica fede a geladeira de pobre em fim de mês.
Que bom que Ícaro arde!
Ícaro tem de morrer!
Mas se sobreviver, se conseguir nadar até alguma ilha ou, quem sabe, ser levado pela correnteza até a costa de algum continente, terá de ter aprendido a lição. Quem sabe ele deixa um pouco a vida o levar... Um dia de cada vez, como nos Alcoólicos Anônimos. Sua epistemologia precisa cair ao chão, cheirar mais terra e gente. Mas, sobretudo, pensar em voos menores. Voos que recendam à finitude;, à dinâmica que até as profundezas do oceano transforma, em seu devir, em elevados picos; à parcialidade, inevitável destruidora de universais; à benfazeja incapacidade de retenção da memória humana.
Sim, de grão em grão a galinha encherá algum papo bem menor do que um oceano!
Agosto de 2016