O ACIDENTE DE TRÂNSITO
Arquivo SBR-0001
Da série: “O ser humano precisa ser estudado!”
*Por Antônio F. Bispo
No asfalto quente de um dia ensolarado, o corpo de Davi jaz sem vida a poucos metros do próprio carro, num cruzamento de uma avenida bem movimentada.
De bruços, estendido ao chão, o cadáver está envolto no próprio sangue. Fora silenciado com oito tiros de calibre 38 numa discussão que durou menos de 30 segundos por um motivo banal. O assassino já havia sido preso.
Apenas 25 minutos antes este homem estava vivo e feliz, indo com a família para um passeio de fim de semana. Agora era apenas mais um número de estatística em uma planilha policial de registro de crimes bárbaros por motivos fúteis.
De joelhos, ao lado do corpo crivado por balas, Rute sua esposa, chorava desesperadamente. As vezes em pé gritando feito louca, as vezes abraçada com o cadáver envolvendo-se no sangue dele, beijando-o, encarando-o e custando acreditar no que acontecera. Já havia desmaiado 3 vezes e ao voltar a si, pensava estar em um pesadelo e gritava pedindo para acordar.
Seus dois filhos que também presenciaram toda cena já haviam sido recolhidos pela família a pedido dos policiais. Ela permanecia sozinha ao lado do defunto, aguardando o recolhimento do corpo e a chegada de alguns amigos para lhe confortar.
Tudo acontecera tão rápido...
O criminoso fora levado pela polícia após o flagrante delito. Madalena, a esposa do homicida e seus 3 filhos que também estavam no carro na hora do crime, foram conduzidos à delegacia par serem ouvidos.
Os policiais que o prendeu presenciaram toda ocorrência, mas não conseguiram evitar a tragédia. Ambos estavam apenas a 50 metros de distância do ocorrido, abordando um outro elemento quando foram surpreendidos por uma freada brusca na esquina, uma discussão e logo depois os disparos.
Ao chegar ao local, o assassino estava em pé com a arma em punho vociferando feito louco: “morre vagabundo, você se meteu com a pessoa errada”!
O nome dele era Estevão. Ele não resistiu a prisão. Entregou sua arma aos policiais e algemado fora levado para delegacia. Ele alegou que foi em legítima defesa.
A confusão teve início quando Davi com seu Pajero recém comprado, sem prestar atenção e sem ligar a seta, virou à direita bruscamente naquele cruzamento. Estevão estava na segunda pista e seguia em linha reta.
Ele que conduzia seu Lander Rover acima da velocidade permitida para aquele perímetro, fora “fechado” e teve de frear bruscamente a dois metros do carro de Davi, quase atingindo-o em cheio. Não houve nenhuma colisão, nenhum arranhão, e nenhum dano ou prejuízo para ninguém, apenas um susto enorme para todos.
Ambos saíram dos carros totalmente alterados, agredindo-se verbalmente e acusando-se mutuamente pela imprudência ao volante. Apesar de errados, ambos se acusavam mutuamente.
Estevão pegou o telefone e disse que iria chama a polícia. Davi ameaçou pegar sua arma no carro. Estevão que já estava com sua arma na cintura não pensou duas vezes e descarregou todo o tambor de seu revólver em Davi quando este ainda estava de costas dando o primeiro passo em direção ao próprio automóvel.
Esposa e filhos de ambos presenciaram tudo. Mal conseguiram argumentar nada para aplacar a fúria de seus maridos que agiam como duas bestas indomáveis.
Naquele instante uma delas perderia para sempre o seu marido. A segunda esposa o perderia pelos próximos 15 anos, pois seu marido estaria enjaulado em uma penitenciária estadual junto com todos os tipos de meliantes.
Os filhos do que morrera cresceriam com a dor de ter perdido o seu pai por algo tão fútil.
Os filhos do que matara teriam de conviver com a alcunha de “filho de um assassino”, sem falar que a imagem de seu pai em estado bestial tirando a vida de outro homem ficaria cravada em suas mentes para sempre. Logo ele (o criminoso) que se considerava uma pessoa acima da média e dizia que todas as mazelas do mundo eram causadas por “pessoas sem deus”.
Dois veículos, duas famílias e uma tragédia que poderia ser evitada...Entre tantas possibilidades de ligar-se a uma pessoa, essa era sem duvida a pior de todas elas. Todos concordavam com isso.
Profissionais da imprensam já estavam no local, conversando com testemunhas, registrando os fatos para depois torná-los acessíveis a qualquer pessoa em qualquer lugar do globo.
Ambos os envolvidos (no acidente que nem se quer ocorrera) pagavam valores altíssimos relativos à cobertura de seguros de seus veículos. As proteções cobriam todos os danos sofridos ou causados pelos usuários bem como acidentes pessoais, invalidez ou óbito se fosse o caso.
Ali, porém não houvera nada além de um susto!
Apesar da imprudência de ambos ao volante, estariam todos são e salvos seguindo seus destinos se não fosse a arrogância dos condutores que ao invés de estarem gratos pela não colisão, estavam furiosos pelo que não ocorre e resolveram para e afrontar-se.
Envoltos em conjecturas do tipo “se eu tivesse me machucado”, “se tivéssemos colidido”, “se tivesse arranhado o meu carro”, um perdera a vida e outro perdera sua liberdade...
ANALISANDO OS FATOS
Após acessar os bancos de dados de órgãos do governo, de empresas privadas e redes sociais dos envolvidos, nossos analistas temporais debatem e registram a situação para que mais um feito inexplicável dos humanos seja objeto de estudo de seu povo e de outras raças curiosas pelo comportamento enigmático de nossa espécie.
Tanto a narração neutra dos fatos como a “visão filosófica” dos narradores estão sendo inseridas nos registros de seu povo para que outros possam analisar os fatos sob outra ótica se for preciso, afinal toda a trajetória humana nesse planeta pode ser estudada sob diversos ângulos.
TXSL 2 pergunta para TXSL 1: Se alguém paga seguro de um objeto ou propriedade, a lógica não seria que a seguradora assumisse o risco em caso de perca ou danos?
TXSL 1:Sim, claro!
TXSL 2: Então por que ambos se encheram de ira e partiram a para a violência por um dano que nem se quer ocorreu? Se tivesse ocorrido algo, eles não estariam livres de prejuízos?
TXSL 1: A questão não é tão simples meu caro! A lógica e a razão não são atributos constantes em todos os humanos. Alguns nem sabem o que é isso, outros a perdem quando estão sob o efeito de rebanho. Como em outras ocorrências já estudadas por nós, nota-se que um humano ainda não evoluído é um composto de emoções primitivas, totalmente voláteis, prontas a explodir a qualquer instante, mesmo sob o mais ínfimo dos impactos. Até quando frustrados com eles mesmos, tentam culpar alguém e nessa procura insana, qualquer um pode ser tornar um alvo em potencial. Quando valores relativos as religiões e ideologias políticas estão inclusas nessa mix de sentimentos a explosão é inevitável! Qualquer coisa poderá ser o átomo que colidirá dando início a fissão nuclear avassaladora. Nesse caso em questão, observe que tanto os dois envolvidos quanto suas respectivas esposas possuem nomes cristãos. Possivelmente seus filhos também os tem. Todos eles foram criados sob ensinamentos ambíguos e confusos, cujas crenças permitem que eles estejam cheios de deus e do diabo simultaneamente, sendo aceitável que o indivíduo se esquive de suas responsabilidades como agente causador, e passe a ser visto como uma marionete dos desejos dos deuses, atribuindo a seres fantasiosos suas ações, afirmando que os tais os levam a fazer coisas contra suas vontades. Por outro lado, há a questão da “honra”, que lhes dar o direito de devolver as afrontas quando estes sentem-se ultrajados. Por essa honra eles são capazes de matar ou morrer em seus momentos de fúria e isso também seria entendido pelos que partilham da mesma mentalidade. Além disso, existe a questão do status social muito prezado por eles. Veja os veículos que eles usam, suas roupas caras e suas postagens em redes sociais, todas ostendendo o luxo e atribuindo isso a uma dádiva divina como se os que não estão no mesmo patamar que eles, seja visto como renegado dos deuses. É concebível nesses casos (entre eles) que os que mais acumulam aquilo que eles chamam de bens materiais sejam mais propensos a arrogância, a violência e a intimidação baseado em suas posses. É uma herança cultural milenar herdada dos reis e sacerdotes antigos, passado de geração á geração. Os tais se diziam no direito divino de governar sobre todos e que todas as criaturas estavam sujeitas a eles e aos seus filhos por que assim os deuses o quiseram. Governar (como a maioria deles entendem) não é promover o governo, ou seja, a ordem e a divisão de recursos de forma justa em favor de todos. Para os tais, governar é sinônimo de mandar, de oprimir, de ser arbitrário, de o direito de fazer o que bem entender com quem quiser, inclusive de exterminar os que discordam ou são diferente destes. Nem todos os humanos acompanharam de forma simultânea a evolução. Toda evolução exterior em suas estruturas sociais depende do modo como eles se veem e se tratam mutuamente. Essas explosões de ódio são constantes na maioria deles. Quanto mais adepto ao fanatismo de qualquer espécie, mais distante da realidade evolução esse indivíduo estará, e consecutivamente poderá influenciar o meio em que vive de acordo com sua hierarquia ou poder financeiro, causando um atraso sistemático não apenas aos seus conterrâneos e contemporâneos mas a todos os que por estes for influenciado. Como a aquisição de bens materiais, muitos humanos mudam de comportamento em instantes e pensam que a partir de então são poderosos, indestrutíveis e até imortais...até entre os menos favorecidos entre eles isso é comum. Basta um desgraçado subir na vida que logo desejará oprimir o que antes era seu companheiro entre os menos favorecidos.
TXSL1: Explique-me então, por que em situações como essas, eles decidem agir como se fossem policiais, juízes e carrascos de seus ofensores, quando há uma constituição vigente entre eles com inúmeros artigos, parágrafos e códigos definindo quais seriam seus direitos e deveres nos mais diversos casos?
TXSL 2-: Não apenas isso! É bem mais complexo! Além das leis dos homens (constituições), entre os religiosos há também as “leis de deus” que estes dizem estar acima de qualquer lei humana (apesar de tais escritos também serem criados e manuseados igualmente por meros humanos). Além disso também há os códigos de condutas familiares, empresariais, escolares, etc,. A questão não é ter ou não ter lei! A questão e decidir ignorá-las de alguma forma, para mostrar uma superioridade besta a fim de impressionar outros de sua espécie, para que a fama de machão ou durão seja uma medalha de honra dada por seus amigos (também baratos e vazios de si), que durante semanas em rodas de cervejas, ou em noitadas “com as minas” e “boys magias”, irão inúmeras vezes como este intimidara “o outro cara” ou “a outra vadia” com todos os seus atributos disponíveis. Isso também é uma herança antiga de vários povos, numa época em que a palavra escrita era extremamente rara e que bardos, poetas e caixeiros viajantes entretinham as pessoas narrando os feitos de bravos guerreiros que destruíam monstros imaginários ou hordas inteiras de soldados apenas com sua bravura ou com a ajuda de algum deus local. Quanto mais alucinante fosse o conto, mais atenção o narrador angariava para si e seu objeto de culto, trazendo desse modo benefícios mútuos para ambos. Os benefícios poderiam ser a mão de uma donzela, a posse de um condado ou qualquer outra coisa que este quisesse. Aquele que anunciava as aventuras era tão importante quanto aquele que as vivia. Como uma espécie de simbiose, um dependia do outro para existir. Era uma atitude vã fazer um feito heroico sem alguém para narrar, da mesma forma que era “imoral” não ser palpável o objeto da narração. Assim nasciam as lendas! A bíblia e outros “livros sagrados” estão repletos desses tipos de estórias inventadas, aumentadas ou plagiadas, fazendo que atos de estupidez e brutalidade extrema sejam vistos como um ato de justiça e virtude feita por um herói da fé qualquer. Todos querem ser imortalizados de alguma forma. Ser citado como “o bravo” mesmo em um ato de extrema babaquice é compensador para os que nutrem de tais sentimentos. Os jornais sensacionalistas dessa presente época bem como outros meios de comunicação seguem o mesmo estilo de narração, fazendo com que coisas sem importância alguma e tornem-se notáveis, cative audiências e faça com que seja possível o narrador e o objeto narrado “comam do mesmo prato” e dividam entre si o lucro. Assim nascem as celebridades de hoje em dia. A maioria dos espectadores andam sempre na corda, oscilando entre ódio idolatria de acordo com o desejo dos modernos trovadores atuais.
TXSL 1: Quanto a tendência homicida dos humanos, nesse caso como entender?
TSXL 2: Fechemos por um instante esse arquivo para que seja reaberto em outra ocasião sob análise outros dados ainda não expostos aqui....
Escrito em 6/12/20
*Antônio F. Bispo é graduando em jornalismo, Bacharel em Teologia, estudante de religiões e filosofia.