Jornalista Anibal Deocleciano Borges
Esta crônica reverencia a memória do musico e jornalista Anibal Deocleciano Borges, mais conhecido como Biba, cujo nome está na história cultural de São Sebastião do Paraíso, Sudoeste Mineiro. Sua extensa biografia, como cidadão atuante em diferentes instituições, vai muito além do enfoque tratado nestas linhas, escritas para focalizar alguns momentos particulares de sua longa participação na imprensa da cidade. Irmão da também jornalista Sãozinha, atual colaboradora deste Jornal do Sudoeste, ambos herdaram do pai, João Borges de Moura, a vocação e o gosto pela imprensa periódica. Desse modo, desde os tempos de juventude, Biba e Sãozinha vivenciaram parte da longa trajetória jornalística do pai que dirigiu diversos jornais locais, entre os quais, O Jornal, Libello do Povo, Diário da Tarde, O Cruzeiro do Sul, esse último lançado em 1943, entre outros títulos da imprensa paraisense.
No final da década de 1940, quando o jornal O Cruzeiro do Sul ainda estava sob a direção do seu saudoso pai, Biba iniciava sua atuação na imprensa. Participou do grupo de jovens que lançaram o “Destruição”, cujo primeiro número circulou no dia 21 de agosto de 1949. Um jornal humorístico e satírico de cuja equipe participavam ainda o teatrólogo João de Deus e Jacinto Guimarães Ferreira, com charges assinadas pela dupla identificada como Cunha & Lisboa. Cerca de uma década após, Biba assumiu a direção de O Cruzeiro do Sul, um dos jornais paraisenses de maior tempo de publicação, circulando por quase meio século, até início da década de 1990.
Em 1987, o culto jornalista Biba foi um dos fundadores da Academia Paraisense de Cultura, ocupando a cadeira de número 20 e escolhendo como patrono da mesma, o monsenhor Gerardo Naves, homenageando assim o conterrâneo, que em paralelo com as suas atividades sacerdotais, foi professor, músico, compositor, radialista e ativista cultural. Por ocasião da fundação da mencionada academia, além de fundador, Biba foi escolhido como patrono da cadeira de número 9 da mesma entidade, primeiramente, ocupada por Efraim Antônio de Marcos.
Na edição de 22 de setembro de 1957, do Correio Paulistano, de São Paulo, localizamos uma crônica escrita pelo saudoso Biba, divulgando os preparativos que estavam acontecendo para comemorar, em 25 de outubro daquele ano, o 136º aniversário de fundação do arraial que se tornou na acolhedora São Sebastião do Paraíso. Para preservação do registro, transcrevemos abaixo parte dessa crônica:
“São Sebastião do Paraíso, em 25 de outubro próximo, completará 136 anos de sua fundação. A maioria dos paraisenses não sabe disso, pois, nunca foi comemorada essa data pelos responsáveis de nossa vida pública. Este ano, porém, o correspondente do Correio Paulistano conversou com o monsenhor Jerônimo Madureira Mancini, diretor de diversas escolas locais e com o professor Carmo Perrone Naves, diretor do Aero Clube, para, se na hipótese do prefeito municipal decretar feriado no dia citado, fazermos desfilar por nossas praças e ruas as escolas, a banda de música e o Tiro de Guerra 156. Como apoteose desse desfile comemorativo está prevista a “Chuva de Ouro” que será nada menos do que o lançamento, de um dos aviões do Aero Clube, de pequenos paraquedas com brinquedos e brindes para o povo recolher. Tudo acertado com essas figuras de destaque da cidade, endereçamos ao prefeito [Sebastião Pimenta Montans], um ofício no qual explicamos o que pretendemos fazer para comemorar a referida data e solicitar-lhe a decretação de feriado municipal. Ainda estamos esperando a resposta do prefeito, a qual não deverá tardar, para que possamos organizar, pela primeira vez, a festa do aniversário de fundação da cidade.” (Anibal Borges, correspondente do Correio Paulistano em São Sebastião do Paraíso)
Além desse registro, no mesmo jornal, Biba escreveu sobre problemas relativos ao serviço de transporte coletivo urbano em São Sebastião do Paraíso, que havia sido inaugurado há pouco tempo. Um velho ônibus percorria as ruas da cidade e a empresa concessionária do serviço enfrentava dificuldades para manter a regularidade das viagens, bem como a manutenção mecânica do coletivo. A cidade estava necessitando da criação de uma segunda linha para beneficiar a população. Foi nesse contexto que o saudoso jornalista sugeriu a criação de outra linha, indicando o seguinte itinerário: “Posto Guará, Avenida Rui Barbosa, Rua Gedor Silveira, Praça Comendador João Alves, Travessa Alferes Patrício, Rua Pinto Ribeiro, Avenida Oliveira Resende, Rua Placidino Brigagão, Avenida Wenceslau Braz, Rua Pimenta de Pádua, Avenida Ângelo Calafiori e Posto Guará”. Para o jornalista, esse itinerário iria beneficiar lugares importantes da cidade, tais como o Seminário Nossa Senhora do Sion, Ginásio Paraisense, Escola Profissional, Parque das Águas (Lagoinha), além da “nova” caixa de água construída pela prefeitura municipal. São eventos ocorridos há várias décadas, enraizados na história local, aos quais podemos retornar graças à participação do jornalista Biba, cuja trajetória de vida está presente do coração e na memória da cidade.