O que sou?
A pergunta é feita em frente ao espelho d'água, que neste estio, luta contra o tempo, alimentado por pequena nascente também teimosa, mas ainda suficiente. A água, nem tão transparente, mostra em resposta - apenas um rosto desfocado, uma imagem ajoelhada, tremulando ao vento que sacode plácidamente a sua superfície. As marquinhas do tempo nem são muito notadas, parece que o rosto é o da memória da juventude e até mesmo da criança que em épocas passadas, mirava-se em curiosidade, imaginando a profundidade do local, mas sem preocupação, nem percebendo que tudo passava e até as águas iam evaporando, outras vinham e seguiam o destino. Agora sim a percepção chega forte. O lago é um espelho da vida, mostra verdades do tempo, em seu fundo há o lodo das intempéries, mas não assusta, pois vejo que no fundo do lago de meu "eu" interior, há um sorriso de água que disfarça qualquer dor.
Publicado em Antologia -2017
Publicado em Antologia -2017
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