As Pedras
Laura começou a juntar pedras. Umas coloridas, uns seixos bem lisinhos, britas... Ela as coloca numa caixinha. Mas já são tantas que começam a se derramar pela estante. Pedras, pedrinhas... meu Deus! Eu, mesmo tendo olhos de poesia, perdi a paciência com tanta pedra na estante do quarto dela. E perguntei a ela:
- Posso jogar essa pedreira fora? Ou colocar no jardim?
E ela:
- Claro que não, mamãe! Está doida? São as minhas joias! É o meu tesouro!
Eu ri da pureza dela...
Mas hoje eu li um texto comovente! Uma crônica de Rubem Alves, A Complicada Arte de Ver. Há uma metáfora interessante, explicando que vemos o mundo, conforme nossos olhos são guardados numa caixa de ferramentas ou numa caixa de brinquedos. Se na caixa de ferramentas, só enxergamos a função prática das coisas; só vemos as ferramentas: martelos, chaves de fenda, chaves de roscas, parafusos, porcas, etc... Mas quando estão nas caixas de brinquedos, eles se transformam em órgãos de prazer, brincam com o que veem, querem fazer amor com o mundo!
Daí me dei conta de que Laura é que estava certa! Assim como Cora Coralina, que escreveu que faria das pedras de sua vida uma escada para o céu!
Olhei para mim e disse: veja só você, poetisa, que pensava ter os "olhos vagabundos", de Rubem Alves! Tome tento! Aprenda com a Laura a ver nas pedras, tesouros, pedras preciosas, raríssimas, pra enfeitarem o altar de sua vida!