A GRANDEZA DE KANT. NOSSAS FÚTEIS DÚVIDAS.

Ressai da sensibilidade de Vitor Hugo: "A luz da lua não traz vida nem calor, como o sol, mas tem a faculdade de iluminar as trevas."

Luz tênue que não abre inexpugnáveis portas nem traz vida, mas movimenta marés e influencia em suas fases a vida vegetal. Não falta razão em nada na natureza. Presença de Deus tão bem definida por um agnóstico revolucionário e maior em filososfia; Kant.

A “Razão Pura de Kant”, em espaço heterogêneo como a internet, seria avesso às múltiplas fronteiras de penetração do raciocínio, mas nunca é demais acreditar e esperar a função onde surge adensada disfunção. Crer na inteligência é a esperança onde os extremos se tocam; “extrema si tangunt”. Hoje tão difícil a crença na visão sem travas e traves.

A crítica, todos sabem, na melhor forma, busca o crescimento positivo para construir, quase calcada na Lei de Spencer, seleção natural para melhor, criticar seletivamente para concentrar um objetivo maior e mais verdadeiro no objeto visado. Mas vive-se no mundo da contradição, do irrealismo em proveito próprio, do descrédito onde o crédito deveria (condicional) ser o ponto de partida. Mundo da mentira.

Magna obra, exclusiva, “A Critica da Razão Pura”, onde Kant é advogado contra e a favor de suas próprias ideias, fazendo a “tese” a “antítese”, “antinomias” e suas variantes. E falemos em poucas linhas, reportando, (vamos tentar) o que ele discorre em alentadas páginas nas profundezas de seus discursos dogmáticos.

E trata assim sobre o surgimento do mundo. “De fato, se admitirmos que o mundo não tenha começo no tempo, uma eternidade terá decorrido até cada instante dado e, por conseguinte, ter-se-á dado uma série infinita de estados de coisas no mundo. Ora, a infinidade de uma série consiste precisamente em que essa série jamais possa ser concluída por uma série sucessiva. Portanto, uma série infinita decorrida no mundo é impossível e, consequentemente, um começo de mundo é condição necessária de sua existência. Esse é o primeiro ponto a ser demonstrado”.

Estamos diante do movimento; o início de uma grande série de movimentos.

E vai o emérito pensador lançando as contraditas e resolvendo-as.

“Quanto ao segundo ponto, se admitirmos o ponto de vista contrário, o mundo será um todo infinito de coisas existindo simultaneamente. Ora, só é possível conceber a magnitude de um quantum dado dentro de certos limites a uma intuição, por meio de uma síntese das partes. E a totalidade desse quantum, pela síntese completa ou pela adição repetida de unidade a unidade. Portanto, para pensar o mundo como um todo que preenche todos os espaços seria preciso considerar como completa a síntese necessária das partes de um mundo infinito, ou seja, como se tivesse decorrido um tempo infinito na enumeração de todas as coisas coexistentes, o que é impossível.”

Multiplicidade e desfecho no infinito sequencial permanente seria impossível. É o quadro filosófico.

Somos parte desse todo infinito sem terminação, ainda que todos vaguem temerosos com sua extinção, QUE NÃO OCORRE.

E remata de forma inigualável, cartesianamente: “Logo, um agregado infinito de coisas reais não pode ser considerado como um todo dado, nem, por conseguinte, como dado ao mesmo tempo. Portanto, um mundo quanto à sua extensão no espaço, não é infinito, mas está encerrado dentro de limites. Esse era o segundo ponto a ser demonstrado”.

Fala da matéria, parte, mutável no infinito volátil do todo como agregado, e não como todo. Existem limites e mutação.

E faz a antítese: “ De fato admitamos que o mundo tenha começo. Como o começo é uma existência precedida de um tempo em que algo não existia, deve ter havido um tempo anterior em que o mundo não existia, ou seja, um tempo vazio. Ora, num tempo vazio não é possível o nascimento de coisa nenhuma...”. E surge soberano o Primeiro Movimento, Deus.

E “pensa” a ideia de Deus, do surgimento do mundo e da liberdade de forma exclusiva e vanguardista, estável o vanguardismo até hoje. É um começo de um pouco da “Razão Pura”.

Mas a inteligência é abrangente, racional como manifesta, não só sensível. O início é tudo.

Quem somos nós para sabê-lo ou mesmo algo dele quando alguém da envergadura de um Kant, que mudou a filosofia clássica, ratifica no agnosticismo a dúvida. Nela vamos sobreviver e viver cada qual com suas potencialidades. Não há vulgaridade nesses espaços.

Nesse teatro em que somos autores passantes, ansiosos por respostas que não obteremos, evidência da lógica que envolve certeza, nos será sempre negada pelos desígnios maiores nossos questionamentos, ainda que um Tomás de Aquino nos faça unir fé e racionalismo pelas conhecidas cinco vias, a causalidade, lei de causa e efeito.

Criacionismo e evolucionismo não demonstram seus objetos, mas a vida seria uma piada se acabasse tão abruptamente, disse Einsten. E o pensamento, inexplicável sua formação como explicativo do início da vida, união de gametas, e só. Assim remanesce na rede elétrica de neurônios, somente isso....Tenho fundamentos físicos, materiais, sinais evidentes na minha vida, protagonizados, que não acabamos nesta passagem. Ouso dizer. Muitos sinais materializados e concretizados.

Não ínfimos insights, mas gigantescos e evidentes sinais. Resultando em fatos concretos.

Voltar aos mistérios desse infinito que vai muito além de nós todos é a tônica de uma vida sequiosa de respostas.

Fico pensando, também, que a mente humana, que reflete, que deduz, que perscruta esse mistério, tal qual como foi o início do universo, continua inerme. Quando "ela", a mente, tem fim realmente?

Houve começo para ela, haverá um final? O que reserva o extraordinário?

Tudo isso acontecendo debaixo do sol, ardendo nossa inquisição como pequenino grão de areia levado por diversas forças de um lado a outro, mas tendo a força dos trovões seus questionamentos.

Celso Panza
Enviado por Celso Panza em 03/12/2020
Reeditado em 03/12/2020
Código do texto: T7126792
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