Benditas sejam as crianças curiosas
Estava debruçada sobre o livro que acabara de ler. Por muitas vezes iniciei a leitura do livro O Pequeno Príncipe e confesso que não saía das primeiras páginas. Imersa nas literaturas densas de terror e thrillers, havia algo que me prendia e me impedia de ler textos mais “leves” Confesso e não nego, classifiquei a obra como sendo apenas infantil. Entretanto, ao me permitir ler a “pequena obra” de valor e interpretação incalculáveis, percebi que fui tola em catalogá-la apenas pela capa. Esqueci-me da célebre frase: “jamais julgue o livro pela capa.” A atemporalidade poética da obra e suas infinitas reflexões me fizeram questionar várias de minhas práticas e cheguei a me perguntar de forma pontual se a criança que existe em mim vive ou está adormecida. Em meio a torrencial reflexão que o íntimo do meu ser me forçava a fazer, ouvi uma doce e inspiradora voz falar:
-“Piminha!” – disse ela de forma graciosa, ainda não consegue pronunciar muito bem os encontros consonantais e eu acho muito fofo. A descoberta da escrita e fala é algo encantador. Fechei o livro e dei atenção especial àquela fofura que estava em minha frente com ar de inquietação.
Ela estava brava, sua mãe não conseguiu responder a uma pergunta. Quem dera as mães tivessem todas as respostas, não é mesmo? Olhei para aquele “pitoco” de gente e pensei... benditas são as crianças curiosas, pois é por meio delas que novas descobertas surgem e é por meio delas que adultos não se tornam apenas simples adultos. A curiosidade é uma capacidade natural, inata e para nós, seres pensantes, é a porta para o conhecimento e ela já está construindo o seu de forma efetiva.
Da última vez, perguntou-me por que só o vovô podia usar chapéu e a vovó não. Sorri horrores. Ela estava toda indignada por causa do acento. Surge uma feminista? Quem sabe. O questionamento de hoje se formou depois que sua mãe trouxe um suco. Enquanto tomava o suco de manga, ouviu sua irmã mais velha falar que a manga do vestido estava muito folgada. Gelei por completo. Imagina só, ela falava de semântica e homonímia perfeita, que barato!
Pertencente a geração alpha, ela já nasceu “conectada” é uma nativa digital muito curiosa, diga-se de passagem. Expliquei os sentidos, e ela se deu por satisfeita naquele momento, sei que novos questionamentos surgirão e quero acompanhar esse crescimento. Deu-me um beijo na bochecha, disse que ia assistir My Litte Poney no Youtube e saiu toda contente. Imagina só quando ela começar a perguntar sobre o período composto.