Persistência e Resiliência

Afinal, devemos ser persistentes ou resilientes? Será que depende da idade? Sim, porque o jovem deve persistir até que consiga alcançar o que almeja. Já o velho deve ser resiliente e aceitar o que já não pode mudar. Será mesmo?

Talvez o idoso possa ensinar o jovem a decidir sobre quando deve persistir e sobre o que deve aceitar. Afinal, nem sempre vale a pena persistir, nem tudo vai nos fazer felizes. Aceitar o limite pode ser um ato de sabedoria, não de covardia.

Se há uma coisa que nos faz humanos é nossa individualidade. Então é natural que essas teorias de coaching para vencer e ser feliz não podem valer igualmente para todos. “Se você quer, você luta e você consegue” pode ser muito eficaz para vender livros e palestras, mas deve ter frustrado muita gente também.

Procurar felicidade no sucesso é fazer um investimento de altíssimo risco. Primeiro, porque são coisas distintas e nem sempre andam juntas. Segundo, porque ao não ter sucesso, a felicidade parece estar cancelada automaticamente. Finalmente, porque felicidade não consiste apenas em conseguir coisas ou posições. É muito mais. Ou melhor, é muito menos. Na verdade, é bem provável que a felicidade esteja mesmo na contramão do sucesso. Melhor garanti-la enquanto não chegar lá.

Não sei definir felicidade; só sei sentir, e apenas às vezes. Mas todos sabemos o que não é felicidade, onde ela não está. O problema é que só sabemos quando vivemos sua ausência. E até lá, seguimos acreditando que em tal realização vamos encontrá-la. O problema é que ficamos cegos nessa busca e perdemos oportunidades únicas de nos deparar com ela pelo caminho. Idealizamos tanto essa tal felicidade que não a reconhecemos quando a vimos. Ela passa por nós sem alarde, nada de brilho e luxo, talvez na forma humana ou animal, exibida na natureza, disfarçada num abraço, num carinho, numa atenção especial. E nada disso nos chama a atenção e seguimos lutando pelo sucesso, que tampouco sabemos definir, até que, tarde demais, nos damos conta de que não é lá onde ela se esconde.

A persistência, nesse caso, não é benéfica. Mais valia teria o conselho para deixar de tentar e mudar o rumo da história. Mas parece que temos muita dificuldade em aceitar derrotas pessoais. E como pode haver vitórias se não há derrotas? Como pode haver histórias de sucesso, sem que haja inúmeros fracassos para que ela ocorra? Quantas pessoas são rejeitadas para que uma única seja alçada a um posto importante? E a escolhida foi a única a persistir? Claro que não!

De outro lado, a resiliência parece ser a única opção dos idosos. Nem sempre deveria. Verdade é que lutar contra a natureza do envelhecimento é apostar numa batalha perdida. Aceitar o ocaso da vida é muito difícil, de modo que ser resiliente e adaptar-se e vencer pequenos obstáculos costuma ser a rotina dos idosos. Se não é possível andar, leia; se não é possível enxergar bem, ouça, conte. Se não é possível correr, ande. Se doer, não se entregue. Se não se lembrar do passado, pense no futuro; se não gosta do presente, agradeça pelo passado. Seja como for, persista, pois não há plano B para a velhice. Porém, alguns novos desafios podem ser vencidos, e eles não necessariamente estão ligados à velhice.

Talvez fosse a hora de os jovens ensinarem os idosos a persistir, a esquecer a finitude da vida e planejar o futuro; a almejar sucesso, ainda que um sucesso particular, difícil, porém alcançável. O idoso, ao contrário do jovem, saberia avaliar se vale a pena ou não.

(Dezembro 2020)

Anelê Volpe
Enviado por Anelê Volpe em 02/12/2020
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