Estudar? Para quê?

Estudar? Para quê?

Era um dia como qualquer outro. Isabel estudava no seu quarto. Os livros espalhados em sua cama mostrava suas investidas Era um frenesi acadêmico. Uma espécie de gula. Lia um livro, procurava os dicionários de filosofia, sociologia, economia para poder entender o autor. Tudo se tornava enfadonho e cansativo. Ela se perguntava para que tudo aquilo ? O professor exigia muita leitura, cobrava nas provas e daí ? Em que esse tipo de conhecimento contribuiria para melhorar sua vida? Em que estas leituras estavam interferindo no seu olhar sobre o mundo? Não sabia ainda responder.
Resolveu ouvir música clássica, poderia aliviar a tensão. Vivaldi... gostava muito de ouvi-lo . Debruçou-se novamente sobre os livros. Folheou os textos, fez anotações, releu algumas das passagens sobre Vigotski, Piaget e, assim, foi indo. Que vida estudar sem ter a experiência fica um tanto quanto difícil. Bom para as alunas que já trabalham nas escolas estas poderiam olhar para dentro, para o interior das instituiçòes e analisar suas práticas. Mas, ela, pobre coitada Não sabia o que era a escola, a não ser como aluna. Ah bons tempos o de aluna. A professora magrinha, D. Jorgete, sempre de voz mansa a pedir silêncio, e a turma fingindo que não ouvia. Livros espalhados nas carteiras. Tudo era motivo de júbilo. Mas D. Margarida, a amorosa presença, não deixava passar nada e pedia silêncio batendo com a régua na mesa. Regozijo na hora do recreio. Como nos divertíamos... comer pipoca, jogar queimado, carimbo, pular de corda e paquerar com os meninos. Venturoso tempo
Insigt Valéria deu- se conta de que poderia , a distância, ter um olhar diferente, de estranhamento e percebeu que sua escola tinha normas, horários, regras, metodologia, reuniões de pais, castigos e premiações. Observou que aprendera português através de leituras repetidas , de uma enxurrada de cópias e ditados. Notou que a Geografia e a História eram matérias tidas como decorativas e a Matemática significava um verdadeiro massacre.
Viu o currículo oculto expresso nas atitudes padronizadas dos professores e alunos, os pactos escondidos, as falas autoritárias.

Continuando sua travessia, viu também suas manhãs de estudo em equipe e das aulas monótonas do rígido e mirrado professor de história. Os enfadonhos questionários Não aprendera muita coisa dessa disciplina. E as lições de casa do professor de Inglês na 6a série? Esse foi um tempo difícil. Era um senhor de barba e bigode. Estranho relacionamento. Ninguem o conhecia mais de perto. O engomado mestre, hirto, fazia questão de se manter distante. Poxa Era totalmente diferente da professora Joana, que ensinava Educação Artística. Aquela era uma mulher e tanto Além de fazer
uma bela confusão estética com a música e a pintura, tinha um espírito jovial, um jeito matreiro e um bom relacionamento. E o Diretor ? Quase sempre sisudo quando via a expansiva alegria, confundida com indisciplina. O bedel, atento, denunciava, cheio de poder, as transgressões juvenis. Que desperdício
Perplexa, espiou, na sua caminhada histórica. Enxergou o colégio de 2o grau Principalmente nas 2o e 3o séries. Deus meu Era um festival de medalhões metidos a engraçados, contando as repisadas piadas e perpetuando as mesmas brincadeiras extravagantes . Era um maneirismo só. Salvo raras exceções, os professores não faziam a diferença. Que mesmice Revelada no formato engessado do ensino de caráter propedêutico. Apostilhas, corujões, bizus. Um martírio imposto pelos recrutadores do vestibular. Era a sina dos jovens em que os pais depositaram seus sonhos juvenis. O que fazer?
Márcia esgotada do percurso intrigante voltou a pensar no trabalho que tinha de entregar. O professor exigira afirmando que era para a nota. Curioso, ele não se referira a aprender. Só repetia, incessantemente, que o trabalho valia dois pontos.
Ufa Que saco
Regina Barros Leal
Enviado por Regina Barros Leal em 01/12/2020
Código do texto: T7125205
Classificação de conteúdo: seguro