Vegetal

Murchou.

As raízes encolhiam à medida que seu cabelo embaraçava, estava tudo embolado. Não enxergava muitas possibilidades de crescimento, fatalmente acreditava estar beirando o desespero e nem uma chuva poderia lhe hidratar as ideias e manter a mente nutrida, precisava de espaço.

Não tinha como se mover daquele vaso, as raízes, apesar de encolhidas, a prendiam naquele solo que já não era frutífero e, na realidade, só lhe prejudicava. Certamente, um pouco de sol lhe faria bem, talvez um pouco de luz leve embora a palidez das folhas murchas da pobre coitada, se é que existe salvação.

O mesmo solo que lhe alimentava, lhe tirava o apetite.

Assistia as outras florindo e se sentia impotente, como é que todo mundo consegue vingar e ela não? A falta de trato era uma das grandes questões, tinha potencial, sem dúvida, mas o ambiente não favoreceu a sua jornada de germinação.

"Não vai aparecer nenhum super-herói do nada e te fazer crescer, você precisa tentar mais, ter iniciativa!"

Está vegetando, fincada ao vaso de solo infértil, cercada de vasos floridos, quando apenas ela aparenta estar murchando. O lamento solitário é embalado pelo vento que balança as folhas sem vida em uma valsa melancólica, dando movimento ao que parecia imóvel. Queria ser plantada em outro lugar, um canteiro, um vaso maior, um jardim, uma praça. Queria estar forte, verde, brilhante e frondosa como a samambaia do vaso ao lado.

Desejos incubados na origem de suas raízes à espera de uma fresta de luz para germinar em broto, o coração vegetal pulsa lento e a seiva ainda corre em suas veias, ela permanece à trancos e barrancos.

Brenda Nascimento
Enviado por Brenda Nascimento em 01/12/2020
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