ALMOÇO DE DOMINGO.

Almoço em família é tudo de bom.

Há tempos que minha família não se reunia para almoçar, o tradicional ajuntamento de familiares em uma determinada casa foi drasticamente interrompido com a pandemia de coronavírus. Distanciamento social, quarentena interminável, uso de máscaras, álcool em gel, enfim, é o novo normal que se impõe às nossas vidas. Número de infectados assustador, incontáveis mortos em todo o mundo, medo, ‘stress’. A sensação que fica é de que não voltaremos ao que éramos antes da pandemia. São meses intermináveis de solidão, (almoços em família em todo o mundo interrompido). Neste domingo, octogésimo quarto aniversário da minha avó, reunimos uma pequena parte da família. Tios, primos, agregados, enfim, a casa ficou quase cheio, quase… Se fossemos reunir 'toda' a família, um salão seria pequeno. O almoço ficou ao encargo da minha tia, que é a filha mais velha da minha avó. Todos os filhos estavam presentes, (exceto o tio José Maria, falecido). Fogão e churrasqueira a todo vapor, conversa boa, o meu irmão ficou na churrasqueira, minhas tias no preparo do almoço, o cheiro gostoso de carne assada já invadia as narinas e castigava duramente os vizinhos. Enquanto isso, à conversa continuava solta aqui e ali, pequenos grupos de mineiros falantes, vozes em volume máximo.

No cardápio, bem variado, especial para a data, havia alguns pratos saborosíssimos, que, perdoe-me os leitores, eu não saberei dizer o nome dessas delícias. O tradicional 'arroz' com 'feijão', fazia-se presente, não pensem os senhores que estes dois sobreviventes, entre tantas opções refinadas, foram pouco visitados, pelo contrário, a enorme 'panela' de arroz foi a primeira a acabar. A carne, na medida em que saia da churrasqueira simplesmente desaparecia goelas abaixo. Os tios mais velhos, dados as garrafas de cervejas, olhos miúdos, em conversas onde cada um contava vantagens uns para os outros nos assuntos pautados. Minha avó, a anfitriã do dia, apenas observava, em um quase silêncio, interrompido, vez é outra por algum membro perguntando isso ou aquilo, sem muito interesse de alongar a conversa.

Minha filha e as primas conversavam na sala, assuntos concernentes a adolescente. Os menores, com brinquedos espalhados para todos os lados, corriam e gritavam e choravam é voltavam a correr. Vislumbrei uma pequena fração do que deveria ser o nosso, 'normal'.

O almoço seguiu o seu curso, 'delicioso' e 'inesquecível'. Esse pequeno ajuntamento de pessoas, certamente criticado por um e outro, foi a melhor coisa que nos aconteceu. Que atire a primeira pedra quem não fez semelhante por esses tempos difíceis! Que dias como esse venham a se repetir, sem restrições, sem pandemia, sem medo de ser feliz.

Sabemos que à COVID-19 será uma triste realidade presente no próximo ano. Se teremos de fato uma vacina eficaz é uma incógnita, no entanto, o convívio familiar deve ser mantido, dentro é claro de medidas de segurança, não exageradas, porém, necessárias.

O almoço de domingo foi uma janela aberta ao passado em pleno presente turbulento.

Esperança sempre, desistir não é uma opção.

Tiago Macedo Pena
Enviado por Tiago Macedo Pena em 29/11/2020
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