Maradona 1960-2020*
Numa tarde quente de junho, dia 24, para ser mais preciso, eu me apaixonei perdidamente pelo futebol.
Caniggia fizera um gol que eliminaria o Brasil nas quartas de final da Copa de 90.
O passe, o atacante de longos cabelos loiros, recebera do camisa 10 alvi-celeste.
Eu me apaixonei pelo futebol numa derrota do Brasil contra seu maior rival, com a participação direta do maior ícone do esporte naquela época, o maior craque de todos os tempos depois de Pelé. E eu deveria odiá-lo depois daquele dia, mas não
Deveria igualmente odiar este esporte tão injusto tantas vezes na história, mas não.
Meu ódio era inveja e a razão da minha paixão era Maradona.
Maradona era tudo o que não tínhamos e não conseguíamos ser. Era abusado, malandro, orgulhoso, confiante, feliz e triste.
Pude sentir um pouco desta argentinidade quando visitei La Bombonera. No entorno do estádio, muros e prédios inteiros retratando Diego, às vezes ao lado de Carlos Gardel e de Evita Perón, às vezes ao lado de Che Guevara, mas a figura de Maradona sempre se destacava.
Dentro do estádio, um sem número de lembranças e artigos usados por Maradona, troféus levantados por ele e centenas de fotos. E lá de dentro do campo, no centro das tribunas de cadeiras azuis, uma única cadeira amarela. Foi o mais perto que cheguei do eterno camisa 10 alvi-celeste.
A inveja de menino não existe mais. Resta viva na lembrança os dribles do craque que amava a bola mais que o próprio jogo.
JEFFERSON FARIAS
* Publicado originalmente em https://ocronistainutil.wordpress.com/2020/11/26/maradona-1960-2020/