O curioso comportamento d'uma jovem astróloga nas redes sociais

Estava eu a correr os olhos pelos stories de uma certa moça no Instagram, quando, subitamente, deparo-me com uma imagem que fez os meus instintos do baixo-ventre se atiçarem sobremaneira: tratava-se de uma foto na qual apetitosos pães de queijo eram soberbamente exibidos. Com a boca cheia d'água fui, no impulso, cumprimentar a prendada autora daquelas obras-primas gastronômicas. Lancei mão d'uma linguagem carregada de empolgação, de contentamento, mas, porca miséria!, não fui bem interpretado. Eu disse que abandonaria São Paulo e desceria mais para o Sul, a fim de encontrar-me com a donzela que fabricara aqueles benditos pães de queijo. Em tudo isso, claro, estava subentendido na linguagem hiperbólica, o gracejo inocente que só pretendia expressar a alegria de ver um dos meus alimentos preferidos tão bem preparados, tão bem acabados na foto. Ledo engano! A moça que, segundo consta nos seus perfis, é versada nas investigações astrológicas da realidade, além de também dominar a Cartomancia, achou que eu a estava cortejando. Eu, que nada sei de Astrologia, que não tenho nenhum domínio da interpretação dos símbolos da linguagem do Cosmos, que só me deixei embasbacar pelos pães de queijo, estava a cortejar o coração d'uma donzela que nunca vi mais gorda ou mais magra na minha frente. Que coisa esquisita! A astróloga, já ressabiada, lançou mão do escudo contra um adversário que nem espada carregava. Disse que seu coração pertencia a um carioca que, assim como eu, já prometera descer mais para o sul para comer-lhe os pães de queijo e consultar-se sobre os detalhes de sua vida com os poderes místicos da pretendida namorada. E mais, escreveu-me um longo texto narrando o quanto o tal carioca era versado em não-sei-que arte da guerra, que mataria qualquer um que se lhe atravessasse o caminho desde o Rio até o Paraná -- se não me falha a memória do local da residência da mística do Instagram. Pois bem, eu fiquei mesmo encucado com a situação. Pelos caralhos das caravelas! Não é possível que ela não entendeu que tudo o que eu queria eram os pães de queijo!?

Vitor Marcolin
Enviado por Vitor Marcolin em 25/11/2020
Reeditado em 25/11/2020
Código do texto: T7120571
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