FESTAS JUNINAS

Não bastava apreciar a saída de aula das beldades do Divina; uma vez ao ano, fazíamos questão de também vê-las vestidinhas de caipira. Na década de 1960, isso valia para todos os colégios femininos de Curitiba: Sagrado Coração, Martinus, Educação Familiar, Sacre Coeur, São José, Sion, Cajurú e muitos outros mais. Nos meses de junho e julho, uma festa mais animada do que a outra, onde não faltava cachorro-quente, pastel, sonho, pé-de-moleque, paçoca, maçã do amor, pinhão e quentão, pra citar apenas algumas das delícias. Bastava entrar na fila e trocar o dinheiro por fichas, daí era só caminhar até as barraquinhas com suas mocinhas e bandeirinhas, e saborear aqueles gostosos quitutes recheados de amor e simpatia.
As barracas de diversões funcionavam a pleno vapor, com pescaria, tiro de rolha, bola na boca do palhaço, jogo de argolas, roleta da fortuna e forno mágico. No salão nobre, não faltavam grãos de milho pra marcar as cartelas de ruidosos e alegres bingos, com prêmios fabulosos como galeto assado, vinho de Santa Felicidade, pacote de bala Antonina e capa pra bujão de gás._”Mas vamos com calma minha gente, vão marcando aí os dois patinhos na lagoa (22), a idade de Cristo (33) e o quaraquaquá (44), que logo teremos nosso prêmio principal: uma bicicleta Monark aro 26 com pneu balão faixa branca, selim com estampa do Maracanã, campainha trin trin, espelhinhos no guidom, e pedais com olho de gato!”
Outra atração muito apreciada pela rapaziada era o ‘correio do amor’, com o serviço de alto-falantes do colégio expondo em alto e bom som os nobres sentimentos de um jovem romântico por sua donzela amada - quase sempre mais interessada em matraquear com as colegas da classe do que em alimentar um inexpressivo namorico.
No entardecer, acendiam aquela enorme fogueira armada no dia anterior, e que no auge das chamas ameaçava incendiar todo o colégio. Realizavam então o casamento caipira, uma união notadamente inválida, absolutamente nula, posto que o pai da barrigudinha noiva trazia o rapaz pelo cangote, espetando furiosamente o cano da espingarda em seu pescoço, e tolhendo a olhos vistos o livre arbítrio do safado. Quanto ao padre, fazia que nem via, e celebrava entusiasmado a cerimonia.
Nos colégios mais distantes do centro da cidade, era comum - e muito prestigiado pela população - o desfile de carroças puxadas por cavalos adornados, e belamente enfeitadas com arcos de bambu e fitas coloridas. Dezenas de pessoas seguiam o cortejo a pé pelas ruas do bairro, aplaudindo com gosto e soltando fogos de artifício em todo o trajeto percorrido.
Nos pátios dos colégios, traques e bombinhas eram permitidos, mas foguetes de três tiros e bombas cabeça-de-nego, não. Balões, só chinesinhos, com suas tochas de algodão e parafina. Em muitas dessas festas, havia concurso para eleição da ‘sinhazinha’, e premiação dos trajes típicos mais bonitos e sugestivos.
A noite chegava trazendo com ela um animado baile, com direito à quadrilha - dança de dezenas de casais vestidos à moda caipira. Todas as músicas tocadas eram alusivas às festas juninas: Cai, Cai Balão; Chegou a Hora da Fogueira; Noite de São João; Pula a Fogueira Iaiá, e tantas outras.
Muitas saudades das festas juninas de Curitiba!
 
Marco Esmanhotto
Enviado por Marco Esmanhotto em 25/11/2020
Reeditado em 25/11/2020
Código do texto: T7120376
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