Sexo na Internet
A internet e o teatro da carne
O analfabetismo virtual é realidade que acrescenta ao subdesenvolvimento uma nova estrutura de recalcamento. Sou favorável à criação de uma máquina do mesmo estilo com o tema erótico exclusivo. Vi pela internet que os americanos já realizaram a façanha, chama-se “machine fucking”, intraduzível respeitando os padrões morais. O leitor deverá estar perguntando por que uma máquina com base no milenar jogo de xadrez possui espaço para tanta expressão íntima. Sic. Não haveria nenhum interesse massivo numa máquina cujos impulsos representados por complexa criptografia não resultasse em imagens gratificantes. E sem configuração essencial das imagens no campo erótico, logo ocorreria desinteresse pelo mecanismo em condições de divertimento de massa. Se a imprensa escrita nas últimas décadas se esforçou ao máximo para ser mais vista do que lida, a internet não poderia fugir a regra. O poder visual dessa nova técnica é imenso, sendo vício o que vistes todos os dias, é mecanismo vicioso. Restitui a sexualidade humana o nudismo inicial da condição primitiva num simples entre clic.
O homem internalizado numa individualidade restritiva das funções afetivas... Aspecto que os cabarés do tempo dos nossos avós também reinventavam. Com o controle social dos indivíduos, numa sociedade que impõe a lei mais do que a educa, surge o clamor: expressar desejos naturais no campo da técnica. É o derradeiro e desesperado desafio das liberdades individuais. A internet então abrigou o fantástico “teatro da carne” sobre a qual repousa a antropologia das civilizações. Permitiu a expressão do excepcional até surtir espanto. Linha divisória entre a televisão e o novo meio interativo, menos teatral e mais real. Note o leitor que aceitamos a violência informativa bem mais do que a experiência erótica vital da reprodução. Como ninguém se veste lembrando as origens da palavra "roupa" (vide dicionário etimológico) é fácil singularizar tudo como uma grande perversão sem causa e efeito. A televisão começa a sentir tal impacto e a razão se dá pelo simples fato de que milhões de pessoas estão mais na frente do computador do que da telinha. A indústria erótica é a segunda maior fonte de renda no mundo depois da indústria bélica.
O fim da produção de imagens degradantes é simples. Já existe na gigantesca capacidade de armazenamento virtual uma quantidade incomensurável de documentos sobre o tema. Bastaria o congelamento dessa produção e a exposição do que já existe. Talvez levasse o homem um dez séculos para ver tudo o que já está produzido. Nesse sentido o espectador recebe pela lei a anterioridade da culpa, passa a delituoso pelas escolhas que é capaz de fazer na escuridão dos instintos básicos. Mas é o poder da técnica disponível quem garante as visões. Também é preciso considerar que a escravidão produziu ao largo da humanidade uma aceitação maior da expressão erótica aos pontos do inusitado. A bizarrice da escravidão gerou maior aceitação daquilo que é capaz de nos chocar como um único protesto compensatório. Com a passagem do trabalho escravo para o trabalho livre não existiu nenhuma preocupação com o prazer humano, muito menos sem garantias de sobrevivência. Restou a promessa do enriquecimento para através dele surtir a recuperação artificial da sexualidade livre, agora como mercadoria. A internet recuperou a instantânea presença imaginária desse sentimento enganado: sensação da erotização comunal primária perdida. A inteligência lógica criou então o cabaré virtual, “permissivo” e sem riscos aparentes. Sem imagem erótica a internet não passaria de uma gelada máquina tecnocrática com capacidade para matar milhares de seres humanos cadastrados. (Vide computador e segunda guerra mundial). Há também o choque das civilizações no tocante as diferenças morais. E quando as sociedades começam a legislar sobre costumes está à beira da tirania.
A tirania estamental dos novos tempos sem fronteiras imaginárias