UMA GUERRA DE OVOS
UMA GUERRA DE OVOS
O Carnaval de 1985 passei com meu filho Marcelo, na época com 16 anos, e dois amigos também adolescentes, no apartamento que tinha no Guarujá. De manhã íamos à praia das Astúrias, na volta fazíamos uma comida para almoço. À tarde ficávamos no “dolce far niente”, assistindo televisão, inventando um churrasquinho, e coisas do tipo. Cidade lotada de gente, muitos carros na rua. Marcelo, o Zebra e outro nadador ficavam ali pelo bairro, pois ir ao centro da cidade era problema.
Domingo de Carnaval à tarde fomos obrigados ir ao supermercado situado na rua Mário Ribeiro, em pleno centro. Fizemos a nossa compra e retornamos percorrendo a rua do supermercado em direção às Astúrias. Meu carro era um Fiat Europa, na época um bom automóvel. Os vidros, de acionamento manual, subiam e desciam girando as maçanetas no sentido contrário da maioria dos carros, o que confundia as pessoas acostumadas com outras marcas. Além do que a maçaneta da porta do carona estava com defeito e era mais dura de ser acionada. Era uma época que garotos, durante o carnaval, ficavam nas ruas à espera de carros com janelas abertas. Municiados com babuchas, bolas de gás cheias de água, assim que aparecia um veículo desavisado arremessavam as babuchas. De maneira geral os carros transitavam com janelas fechadas no período de Carnaval para evitar essas surpresas irritantes.
Quatro quadras após o cruzamento com a Av. Puglisi, ao nos aproximarmos de um grupo de meninos, fomos literalmente atacados por babuchas cheias de água atiradas violentamente. Vínhamos conversando, descontraidos, mal tive tempo de fechar o vidro do motorista. Devido ao elemento surpresa, Marcelo, sentado no banco do carona, não conseguiu erguer o vidro a tempo e foi muito atingido por diversas babuchas, inclusive no rosto. Sem contar que o interior do carro ficou alagado com a água proveniente do rompimento das babuchas. Ficamos todos inconformados e de imediato os rapazes pediram para voltar, que queriam se vingar e iriam brigar com os garotos, Argumentei que os agressores eram menores, pré-adolescentes, e não seria correto bater nos meninos. Tive uma idéia para nos redimir do vexame. Retornamos ao supermercado, onde comprei duas dúzias de ovos. Ato seguinte, o Zebra e o amigo se acomodaram no porta malas do carro e ficaram segurando a porta com as mãos, com uma das caixas de ovos. Marcelo, com a outra caixa, sentou no banco do carona e, com as janelas totalmente abertas nos dirigimos devagar ao local onde havíamos sido atacados. A turma de garotos correu em direção ao nosso carro, sedentos para nos atingir com as babuchas. À semelhança ao que aconteceu com o Cavalo de Tróia, esperamos os mesmos chegarem bem próximos e de repente o porta malas se abriu e nossos amigos descarregaram diversos ovos nos garotos, e o Marcelo fez o mesmo. Em instantes, aqueles garotos bem arrumadinhos ficaram totalmente melados com grandes manchas amarelas, alguns chorando. Era ovo para todos os lados. Nenhum dos nossos oponentes se livrou de levar uma “ovada”. Marcelo e seus amigos correram atrás dos meninos até gastarem as duas dúzias de ovos. Embarcamos no Fiat e voltamos para o apartamento. Com a alma lavada. Por ovos.
Paulo Miorim 23/11/2020