O FÍGADO FOI PRO SACO
O Carmelo, um parente afastado do meu pai, nascido em Januária, norte
de Minas, tinha problemas mentais e se tornou andarilho por natureza.
Juntava umas tralhas e caía no mundo. De vez em quando surgia aqui em Belô/MG, vindo não se sabe de onde, barbudo e cabeludo, arranchando-se
na casa do meu tio José Augusto. Ficava alguns dias e depois sumia!...
Certa feita, foi parar defronte ao "QG" do Corpo de Bombeiros, nos altos
da Avenida Afonso Pena e se instalou por lá. Chegou uma viatura mili-
tar, ele foi levado pelos homens para dentro, deram-lhe uma ducha gelada,
cortaram-lhe o cabelo, fizeram sua barba e depois o soltaram.
Ele retornava à nossa casa, ficava mais um ou dois dias e sumia de novo,
deixando todos a ver navios. O tio Juquinha, cunhado do meu pai, que era
enfermeiro prpfissional, chegou pro meu velho e disse:-
"- É, cunhado, não adianta, sabe? Esse não tem mais jeito. O fígado dele já foi pro saco, ouviu?..."
-o-o-o-o-o-o-
B.Hte., 23/11/20